“O melhor é conseguirmos a remoção total do plástico”
Dr. Joseph Greene
Hoje fiz minhas compras mensais no supermercado.
E tive uma surpresa quando notei que o “meu” supermercado não estava mais preocupado com o meio ambiente mas com seu lucro e, numa canetada eliminava um custo e ganhava nova fonte de receita : um impacto baixíssimo para a natureza mas muito alto para o bolso do consumidor.
Onde antes eu podia acomodar minhas compras em sacolas biodegradáveis, e incluídas no valor das mercadorias , é óbvio — o que sempre vi como atitude empresarial de preocupação com a não poluição do ambiente — agora só passei uma raiva tremenda com a falta de sacolas (a não ser as disponíveis para venda : poluir com sacolas compradas pode), uma cobrança dupla, pois o preço continua o mesmo e tenho que pagar caro a sacola, feita, por exemplo, de milho, para desespero das galináceas de São Paulo por falta de alimento no futuro : que saco .
Os donos de supermercados estão dando um tiro no pé com o acordo feito com o poder público porque passam a vilões, enquanto o parceiro aparece na foto como defensor ambiental por ter proposto o acordo, escondendo por debaixo do tapete a lista de problemas que ainda sofremos com o volume do lixo produzido: a quantidade de lixo plástico reciclado é ridícula, faltam usinas de compostagem, deixando grande parte dos nossos restos de consumo em aterros, na maioria irregulares, a céu aberto.
Todos sabemos que os oxidegradáveis — materiais plásticos que facilmente se dispersam em aterros, dando a falsa impressão de solucionar o problema dos resíduos sólidos — são, na realidade, materiais que deixam passivos ambientais mais graves, representados por substâncias tóxicas que escapam para o solo a partir da decomposição da matéria plástica que os abriga. O Dr. Joseph Greene , pesquisador da Universidade do Estado da Califórnia, testou diversos materiais plásticos em diferentes aterros e concluiu que, por outro lado, a opção por não-biodegradáveis pode ser o anúncio de um desastre nos próximos anos.
Não defendo o uso das sacolas, e já comprei caixas plásticas para resolver meu problema, mas, olhando para o que comprei hoje, percebi a quantidade de plástico usado nas embalagens dos produtos adquiridos, e já comprei mais sacos plásticos, aqueles pretos, descartáveis, para colocar o lixo na rua, e colocá-los em diversos cantos da casa onde antes eu usava as sacolas biodegradáveis fornecidas pelos supermercados: vou poluir, a contragosto, muito mais que antes.
Confesso que me senti como o jovem goleiro Matheus, do Corinthians, ao ficar sem a sua merecida medalha no final da Copa São Paulo de juniores, mas com uma diferença: sinto-me vítima de uma ação absurda, não de um ex-governador, mas do governador do meu Estado — para meu desencanto, ambos torcedores do tricolor do Morumbi — em comum acordo com o “meu” supermercado.
A oferta de sacolas ecológicas (uma solução menos ruim) para carregarmos mercadorias deveria ser obrigação dos supermercados (mesmo com custos embutidos no das compras que fazíamos) e não do já sofrido povo a quem a medida só trouxe transtornos: isso ocorre porque os políticos paulistas e os proprietários de supermercados não vão às compras, mandam suas empregadas ou assessores.
Enquanto isso tem gente perdendo tempo em reclamar com o que acontece no BBB 12 , muitos deles fazendo coro à espantosa passividade do povo em relação a mais essa imposição, enfiada goela abaixo, sem critérios, sem dó nem piedade.
Pelo andar da carruagem e conhecendo o poema “No caminho com Maiakovski” , outras medidas virão para “resolverem” problemas ambientais, tão rápidas e inócuas como essa, que vigorarão até o momento em que algum dono de supermercado descobrir que está sendo usado e resolver “distribuir” sacolas biodegradáveis, que é, o que me parece, uma medida paliativa até que não se acabe, de vez, com o plástico no mundo.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO