“Cho, chuá / Cada macaco no seu galho / Cho, chuá / Eu não me canso de falar…”
Gilberto Gil
O teto da Capela Sistina, como todos sabem, é um monumental afresco de Michelangelo, realizado entre os anos de 1508 e 1512, na Capela Sistina, no Vaticano.
Imaginemos o Papa Júlio II , sobrinho do Papa Sisto IV, que encarregou Michelangelo da pintura conhecida mundialmente, dando palpites sobre como deveriam ser os afrescos: os rostos devem ser todos alegres, os anjos, de olhos azuis, os profetas, saudáveis e com corpos hercúleos, retirar a serpente da cena do pecado original, e exibir Eva com vestido longo, para encobrir sua nudez.
Certamente não teríamos hoje o tesouro artístico que encanta a humanidade.
Tomadas as devidas proporções, é isso que acontece constantemente com nosso trabalho fotográfico no Grupo Amigos da Fotografia: o desrespeito ao artista, ou ao grupo de artistas.
Ao solicitar uma exposição temática, o solicitante se acha no direito de impor seu gosto ( ou falta de gosto) artístico como se o fotógrafo fosse simplesmente um realizador de vontades daqueles que detêm os espaços, esquecendo-se eles de que os artistas fotógrafos têm sua visão particular da realidade e de que essa visão não pode ser direcionada de acordo com poderes econômicos ou políticos.
Minha opinião é que, se alguém quer algo artístico que lhe agrade e satisfaça somente aos seus desejos, não aja como censor e crítico, que é muito fácil : crie sua própria arte, faça suas fotos, pinte seus quadros, escreva seus textos, monte suas peças teatrais.
Infelizmente, em geral, o artista não tem poder econômico e depende de apoiadores, de mecenas — mas que sejam esclarecidos e que entendam a liberdade de que necessita qualquer tipo de criação artística — de espaços, de divulgação, de avaliação dos trabalhos realizados e que esses trabalhos criem ambiente de reflexão sobre qualquer assunto exposto.
Se alguém desejar estabelecer o que é bom ou ruim, bonito ou feio, politicamente correto ou não em uma obra de arte, deve, primeiro conhecer profundamente a linguagem daquela arte, para que possa analisar seus elementos e verificar se a obra — no caso , as fotos — realizam seus objetivos, dentro da forma que o artista ( veja bem, o artista, e não o contratante da exposição) escolheu para se expressar.
O artista, surgido o impasse, em respeito a sua obra, deve abrir mão de qualquer espaço em que não caiba sua livre arte, deixando claro ao solicitante da exposição que, se ele quer fotos de acordo com sua vontade, deve procurar por um decorador.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO