SHANÁ TOVÁ UMETUKA

“Rosh Hashaná, considerado o aniversário do Universo, é na realidade o sexto dia da Criação, quando D’us criou o primeiro homem, Adam – o propósito de toda Criação. O primeiro ato de Adam foi proclamar D’us como Rei do Universo”.

Por volta das dezenove horas de um início de primavera, entrávamos em território israelense em missão de paz.
Saímos da Van para um amplo saguão fortemente guardado por seguranças, pedimos informações na portaria e fomos orientados a passar por um detector de metais, que, como sempre acontece comigo, disparou.
Imediatamente um segurança se aproximou do grupo de cinco pessoas que formávamos e teve início o processo de esvaziamento de bolsas, bolsos, acessórios e a incômoda passagem por sob o batente instalado a um canto do saguão.
Felizmente a única bomba que portávamos só poderia ser usada para abrandar ataques de bronquite.
Seguidos os trâmites de costume na recepção de estrangeiros, tivemos acesso a um paraíso de verde e de luz,  incrustado no centro da cidade de São Paulo: a Associação Brasileira “ A Hebraica” de São Paulo.
Admirador incondicional do povo judeu e de sua cultura, ao ver, nas placas indicativas de cada um dos locais , nomes em homenagem a  Ben-Gurion e outros, senti-me levado no tempo para fatos da história recente e também  milenar.
As jovens sorridentes , pele clara, na maioria com bochechas levemente róseas, nem de longe me faziam lembrar a história de Anne Frank.
No sorriso dos jovens saindo da Sinagoga, ornamentada ao fundo por Estrelas de Davi,  — um local em que eu gostaria muito de ter entrado e sentido as vibrações dali emanadas —  felizmente, em nada lembravam as dores do holocausto.
Confesso que morri de vontade, mas resisti à tentação de pegar um Quipá,( por temor de ofender aos meus anfitriões) — como reconhecimento público da superioridade divina sobre o ser humano, sendo o símbolo de humildade perante o criador e de submissão à sua vontade — e colocá-lo orgulhosamente em minha cabeça.
Naqueles poucos momentos, dentro das amplas   instalações identificadas na rua Hungria pelo enorme Menorá estilizado, de neon azul, senti-me observado, e ao mesmo observando, 5772 anos de um história que me fascina,  encanta e que invejo nos meus quinhentos anos de Brasil criança.
Na biblioteca Ben-Gurion — que foi o líder durante a Guerra da Independência de Israel e tornou-se primeiro-ministro israelense em 25 de janeiro de 1948, um cargo que ocuparia até 1963, com a interrupção de 1953 – 1955 —  encontrei jovens nos terminais de computadores e adultos em leitura silenciosa e compenetrada, num ambiente que em nada lembra o clima tenso entre israelenses e palestinos.
Mas nossa missão nesse espaço mágico foi cumprida no Teatro Anne Frank, quando participamos da cerimônia de entrega do Prêmio Sindi-Clube  de Poesia, Crônica e Conto.
Uma noitada cultural — participação da UBE – União Brasileira de Escritores e da APL – Academia Paulista de Letras — cujas vibrações persistirão por muito mais tempo que os sessenta minutos do evento, a leitura dramática dos contos, crônicas e poesias pelos atores Kelly Orasi e Eric Nowinski, a entrega dos prêmios e o coquetel de confraternização.
Não foi um Rosh Hashaná — comemorado com mel, maça e romãs, e quando se deseja um ano doce pra todo mundo: “Shaná Tová Umetuka” —  mas foi , certamente, um doce e inesquecível momento de minha vida literária.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

SHANA

 

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