“As pessoas que não ambicionam nada e não arriscam nada não servem para nada”.
Benjamin Franklin
Fitz Roy , um mausoléu a 3.375 metros de altitude, em El Chaltén (montanha que fuma ) , extremo sul da Argentina.
O termo mausoléu deriva de Mausolo, nome de um sátrapa de Caria, do Império Persa do século IV a.C. O túmulo de Mausolo, conhecido como Mausoléu de Halicarnasso ( antiga cidade de Anatólia, atual cidade turca de Bodrum), é uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Muitos são os mausoléus importantes , espalhados pelo mundo: Mausoléu de Lênin (Moscou – Rússia ) , Mausoléu de Mao Zedong (Pequim –China) , Mausoléu de Hamilton ( Hamilton –Escócia) , Taj Mahal (Angra – Índia), Mausoléu de Gala Placídia (Ravena- Itália) , Tumba de Abraham Lincoln (Springfield – Ilinois -EUA) , Mausoléu Imperial (Petrópolis –RJ), as pirâmides do Egito, Núbia e Índia.
Ao ler a notícia de que autoridades argentinas haviam decidido deixar o corpo do alpinista brasileiro Bernardo Collares, no Fitz Roy, pico argentino, não resisti à ideia de ficar imaginando a alegria que deve ter tomado conta da alma do alpinista, companheiro da escaladora Kika que o acompanhava, mas teve que o deixar para pedir socorro.
Pensei no sorriso estampado no rosto de Bernardo, entregando-se à morte por hipotermia, num ritual místico, solitário, realizado num dos lugares mais lindos do mundo para um escalador, um altar natural, considerado por muitos alpinistas profissionais como o maior de todos os desafios do esporte, porque suas paredes verticais requerem técnica impecável para serem conquistadas, além do clima da região, excepcionalmente ruim e traiçoeiro, e que já custou a vida de muitos.
Nos seus momentos finais, ao som do renitente moto contínuo, mágico e enlouquecedor, da Cavalgada das Valquírias — Hojotoho ! Hojotoho ! Heiaha ! Heiaha ! Helmwige ! Hier ! Hieher mit dem Ross ! — Bernardo divisa o cume da montanha, em cujo centro, formando uma espécie de sala, abriu-se uma caverna. No fundo surge um precipício, com toda a parte posterior livre à vista. Nuvens tempestuosas correm velozes no céu, enquanto quatro das valquírias de Wagner — Gerhilde, Waltraute, Schwertleite e Ortlinde — espalhadas pelo rochedo, entoam selvagemente seu grito característico de guerra. Elas se divertem com alusões às suas montarias e a guerreiros mortos que vão transportando para o Walhalla.
Simples mortal que sou, carne a ser devorada, futuramente, por repulsivos vermes necrófagos, num túmulo qualquer, numa cidade qualquer, invejo nosso montanhista brasileiro protegido para sempre pelos espíritos das neves e do frio, e pelas eternas geleiras de seu mausoléu natural, guardado pelas gigantescas agulhas de pedra, envoltas em nuvens ameaçadoras e misteriosas.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO