MA BANDA QUE SAIU DO CASULO: BANDA MASTER DO MARISTA

A lagarta da cigarra vive até dezessete anos debaixo da terra, alimentando-se da seiva das raízes de árvores.
Um dia ela decide aflorar, desenterrar-se e metamorfosear-se.
Um pequeno penduricalho se forma : o casulo.
Depois de algum tempo o casulo se abre e sai dele um pequeno corpúsculo disforme que passa a respirar.
E sem que se perceba, uma cigarra sai voando, esconde-se e começa frenética e incansavelmente a cantar: terá quatro semanas para procriar e morrer após momentos de um canto desesperador de amor, de dor que a levará ao gozo e à morte, não sem antes deixar sair de seu ventre os ovos nos estertores  desse ato derradeiro.
E logo mais lagartas-vermes estarão sugando a seiva acre-doce das raízes das árvores: ciclos da vida.
Sempre gostei de ouvir o canto das cigarras que ecoa por entre as árvores do Clube de Regatas.
Mas teve um domingo em que o canto era diferente, de cigarras diferentes.
Todos nos transformamos em Chico Buarque, e nos encantamos com o passar da banda.
Como cigarras, depois de vinte anos, sessenta e quatro componentes  da Banda do Marista eclodiram, não se sabe de onde, em forma de Banda Master do Marista.
E tocaram divinamente, sob a regência de José Humberto Marabini e Roger Vianna,  pelos corredores arborizados do Regatas.
Olhares sexagenários na platéia, cruzavam com olhares sexagenários dos componentes da Banda: e entre esse olhares,  vinte anos contavam suas histórias de médicos, arquitetos, engenheiros, psicólogos, dentistas, professores, advogados.
Abrindo passagem, vinte borboletas, também  saídas recentemente de seus casulos, envolviam com volúpia de bandeiras, balizas e estandartes,  os milhares de associados presentes ao evento — todas ex-alunas do Marista.
Lembrei-me então de Nietzsche e a importância de se buscar uma razão de viver.
Li em algum lugar que as pessoas mais felizes e realizadas são as que sabem aonde querem chegar e têm metas, e que podemos alcançar nossos objetivos de forma mais ou menos eficaz. Mas o fato de termos vivido em função de algo, acrescenta um valor inestimável à nossa existência. Pude então sentir naquele domingo, ao som de trombones, pistões, surdos, bumbos, caixas e pratos que estava diante de pessoas felizes que haviam encontrado mais uma razão para viver.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

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