Saímos de Ribeirão Preto, em excursão, às dezenove horas, e levamos o sol junto conosco no Marco Polo da Rápido D’Oeste, 3850.
Foram cinco dias de calor e brisa suave, revezando-se na realização de nosso sonho de verão, vivido no Centro de Lazer dos Comerciários do Estado de São Paulo, na divisa entre Cidade Ocian e Vila Mirim, na Praia Grande , litoral sul.
Chegamos ao Centro de Lazer na madrugada do dia vinte e um, saudados por Iansã e suas tempestades, mas, às oito da manhã, café completo já tomado, e munidos de cadeiras, guarda-sóis, esteiras, óculos escuros, muito bronzeador e protetores solares, invadimos a praia.
Linda , e da barraquinha — caiçara forte, decidida, curtida pelo sol e pela vida difícil, boné na cabeça escondendo parte do cabelo rebelde, preso em rabo e sorriso fácil —, e Lucas, seu filho, futuro engenheiro de petróleo — negro jovem e forte, simpatia em pessoa, flutua pela areia nas pontas dos pés carregando cadeiras, guarda-sóis, e servindo petiscos — já nos esperavam com as cervejas, refrigerantes, pastéis, camarões, batidas, e água, muita água.
Espaço delimitado, fiz minha visita diária ao monumento à Iemanjá, levando velas, algodão doce e rosas brancas: Odoiá, minha mãe, salve a Rainha do Mar.
Chegado o momento de o sol se pôr, compôs-se o êxodo dos brancos avermelhados, das morenas cor de canela, das crianças untadas de Sundown, dos idosos cobertos por toalhas, dos excessivamente alegres, rumo aos confortos do Centro de Lazer: sauna, piscina, música, recreações, jogos, cinema.
No quarto , enquanto minha família acompanhava as novelas e o BBB 10, eu colocava a leitura em dia com o Símbolo Perdido , novo bestseller de Dan Brown
Essa era a rotina, mas tinha sempre mais.
Tinha o passeio pela feirinha, as tatuagens Henna, as compras para os amigos secretos na viagem de volta, um Sheik Louco de Aracaju cantando e vendendo seus CDs, o Éder , o maior e mais divertido vendedor do mundo de porta-latas de isopor, as apresentações do Projeto Verão Sem AIDs levando para um palco montado na praia, as bailarinas do SBT/Record, Banda Mahal, Eliana Lima , Grupo 100% Axé, Negritude Júnior e as garotas e garotos Verão 2010.
Além de Iemanjá — minha orixá de cabeça — visitei as esculturas em metal de Oxalá , Ogum, Exu, deixei rosas amarelas para Oxum,— Aiê-iê , minha orixá de frente, segundo meu amigo e Pai de Santo Manoel, de Mongaguá.
No último dia, uma terça-feira de manhã, o oceano se fez estrela, tomou conta de todo o palco-horizonte, cobrindo de espumas branco-oxalá o leito vítreo verde-garrafa, fazendo-me sentir uma taça em que Netuno, Deus dos Mares, em festa de despedida, depositava seu champanha cósmico, sob os aplausos de um sol escaldante.
À tarde, deixamos o litoral coberto de nuvens ameaçadoras, e quase repousamos dentro do ônibus, às margens do rio Tietê, cujas águas pardacentas e tomadas pelo lixo interromperam o trânsito e criaram um congestionamento de mais de cem quilômetros, por mais de duas horas.