“… que é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos”.
Ariano Suassuna
Recentemente fiquei indignado ao saber como é o plano de saúde de um senador e de seus familiares: e fiquei indignado.
A revista Época traz, no artigo Privilégio de poucos , informações revoltantes.
O senador tem tratamento gratuito porque faz parte de uma elite de cerca de 400 brasileiros cujos gastos elevados em saúde são pagos pelo Senado Federal. São os 81 senadores, seus dependentes — marido ou mulher e filhos até 24 anos que estiverem na universidade — e ex-senadores com direito ao plano de saúde do Senado ( é uma festa com nosso sofrido dinheirinho) . O plano tem regras simples e claras. Os senadores não pagam nada. Para ter acesso a ele, é preciso ter exercido o mandato por pelo menos seis meses ( e nós temos que trabalhar mais de trinta anos para não termos nem migalhas desses mesmos direitos !!!). Não há limite de gastos para eles e seus dependentes ( é o sonho de consumo de qualquer aposentado, sexagenário, e cheio de doenças naturais da velhice). Há um rede credenciada, mas os senadores podem buscar atendimento onde quiserem ( assim como nós, no SUS ou no SUS !!!) mediante autorização do Senado. Nesse caso, eles pagam, e o Senado faz o reembolso ( eu queria ter um padrinho como esse) . Só precisam se preocupar com as despesas “psicoterápicas” ( quem vai precisar de psicoterapia com essa mordomia toda ?) e odontológicas que não podem ultrapassar ( pasmem ) R$ 25.998,96 anuais. Neste ano, o Senado gastou R$ 32 milhões com despesas médicas.
Agora vem a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária e, em resolução digna de uma Suíça, publicada no Diário Oficial da União (DOU), estabelece que, a partir do dia 28 de novembro de 2010, não será mais possível comprar antibióticos sem prescrição médica, isso porque as farmácias terão de ficar com uma via da receita e a outra será entregue ao paciente, carimbada.
Como afirmou Sérgio Mena Barreto , presidente executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma): do ponto de vista técnico, a resolução é correta , mas, na prática ( mesmo no Brasil de Lula em que tudo está perfeito, segundo a candidata Dilma Rousseff ), isso terá um impacto muito grande na vida da população, porque moramos em um País que não garante o acesso aos serviços médicos.
Com meus parcos salários de professor, pago regiamente um plano de saúde e, por vezes, tenho que esperar por meses uma consulta e por horas nas salas de espera, e, por isso, penso que os responsáveis pela ANVISA deveriam providenciar, juntamente com essa medida, para evitar efeitos colaterais, o imediato acesso de toda a população brasileira a médicos e hospitais decentes, como aqueles em que são atendidos nossos caros ( e muito caros) senadores.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO