É sempre uma brincadeira a causa de agressões mútuas e os desentendimentos constantes entre as crianças e os adolescentes, na escola.
O termo bullying, cujos estudos começaram a ser feitos por volta de dez anos atrás, na Europa, compreende todas as formas de atitudes agressivas intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s) , causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima.
Segundo pesquisas da ex-ONG, ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência , os autores do bullying são indivíduos que geralmente não têm empatia, frequentemente pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo entre seus membros. Seus pais exercem uma supervisão pobre sobre eles, toleram e oferecem como modelo para solucionar conflitos, comportamento agressivo ou explosivo. Admite-se que os que praticam o bullying têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos antissociais e/ou violentos, podendo vir a adotar , inclusive, atitudes delinquentes ou criminosas (transtorno de conduta) .
Além de confiarem nas informações/orientações dos professores e orientadores educacionais de seus filhos, todos os pais devem ficar atentos — se é que encontrarão tempo — para algumas atitudes diárias de seus filhos tais como : mentiras cada vez mais elaboradas, tentativas de manipulação pela via emocional ou por chantagens, roubos, maldades sistemáticas com irmãos e amigos (sem sinais de culpa ou arrependimento) , gosto por experiências mórbidas com animais, nenhuma tolerância à frustração, explosão ao ser contrariado, mania de culpar os outros por seus erros, egocentrismo exacerbado, pouca ou nenhuma mostra de solidariedade, dificuldade em manter amizades reais, arrogância extrema ( até com os pais) , demonstração de prazer ao ferir ou humilhar o próximo, atos de vandalismo.
Nas relações entre alunos na faixa entre cinco e doze anos, existem sempre os empurrões, rasteiras, correrias de uns atrás de outros, chutes, tapas e outros tipos de agressões físicas ou verbais, que sempre chamam de brincadeiras, mas são brincadeiras em que somente um dos lados acha graça.
Por isso, é muito difícil detectar, nessa idade, as características de um futuro psicopata: mas é preciso ficar sempre alerta aos mínimos sinais de desvio de conduta.
No meu tempo de grupo escolar, Dr Guimarães Jr, nos idos de 56, existia um menino apelidado Tatu que exigia, sob ameaça de agressão física, grande parte do meu lanche. Esse bullying do século passado só terminou no dia em que meu pai chegou na hora exata em que ele, na saída das aulas, estava prestes a me agredir.
Meu pai resolveu, com uns bons cascudos no futuro delinquente, um dos casos de bullying que marcaram minha vida em uma escola pública: ainda não existia, naqueles bons tempos, o Estatuto do Menor e do Adolescente.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO