“As tarefas mais difíceis são realizadas pela aplicação diária e consistente do melhor que temos dentro de nós “.
OG MANDINO
Parei numa esquina da rua Sete de Setembro, próximo ao número 1444, escolhendo, com certa ansiedade e preocupação, um local para estacionar meu Fiat e levar meu filho, com cólicas abdominais, para um exame de urgência no Pronto Atendimento da São Francisco Clínicas.
Não precisei esperar. Aproximadamente dez metros à frente, um homem levantava os braços e me indicava uma vaga para eu estacionar: nos momentos de preocupação com a saúde de nossos familiares, é sempre um anjo quem aparece para nos dar a mão, mesmo que, aparentemente, em simples detalhes.
Na sala de espera, recebemos uma senha número 27, mas fomos prontamente atendidos.
E foi com surpresa que encontrei, na sala, o mesmo homem do estacionamento da rua: Fernando , o porteiro.
Achei interessante ele cuidar do atendimento dos que ali chegavam, tanto na parte interna como na externa, do outro lado da rua, daquele espaço.
Passei a observá-lo com atenção.
Fernando retirava a senha para cada paciente que chegava.
Fernando colocava a mão nos ombros dos idosos e pessoas feridas, e as encaminhava imediatamente para locais apropriados.
Fernando assumia a direção de cada cadeira de rodas e ajudava cadeirantes a chegarem aos seus respectivos destinos.
Fernando atendia uma criança que queria tomar um capuccino na máquina de café ali disponível, ouvindo-a com uma postura oriental de reverência recheada de carinho e atenção plena.
Fernando cortava, do braço de cada um que saía, a pulseira de plástico de uso obrigatório, sempre com uma palavra amável e gestos calorosos.
Fernando regulava o ar condicionado, colocava as cadeiras, cada uma no seu devido lugar, olhava pela porta o que ocorria na rua: sempre atento a cada um dos detalhes, sempre pronto a se antecipar e atender qualquer que fosse a necessidade de cada ser humano que ali se encontrava: incrivelmente onipresente.
Fernando, um homem simples, aproximadamente quarenta anos, estatura mediana, bigode e cabelo bem cuidados e óculos: uma metáfora humana do supremo servir.
Lembrei-me de Og Mandino e do seu livro, “O maior milagre do mundo” , quando sobre o ser humano ele diz: “Tu és o tesouro mais valioso na face da Terra, pois tu sabes quem te criou, e existe apenas um de ti. Nunca, em todos os setenta bilhões de seres humanos que caminharam neste planeta, desde o início dos tempos, houve alguém exatamente igual a ti. Nunca, até o fim dos tempos, haverá outro tal como és. Tu és a coisa mais rara do mundo”.
Fernando parece, intuitivamente, saber disso, e faz do seu trabalho um apostolado do sorriso, do gesto amigo, do acolhimento, do doar-se antes que lhe seja pedido, de fazer a diferença: e posso garantir que assim o faz não pelo valor do seu salário.
Neste mundo em que sobram violência, desamor, desrespeito, dores e lágrimas, e faltam ética , moral, respeito, amor e carinho, precisamos não de um Fernando em cada parágrafo, como neste meu artigo, mas de um Fernando em cada canto em que as pessoas esperam encontrar solidariedade e fraternidade, no momento em que falta a saúde, e a dor leva ao desespero.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO:
Nota: 10
Tórtoro é um escritor nato. Com simplicidade, própria de quem conhece a alma humana, faz relatos inesquecíveis e que emocionam. Feliz um país que tem poetas e escritores como o amigo Tórtoro. Parabéns.
Corauci Sobrinho
Secretário Municipal da Cultura de Ribeirão Preto