A LÁGRIMA DE OBAMA

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“Uma furtiva lagrima / Negli occhi suoi spuntò…”

L’Elisir d`Àmore – Donizetti
A lágrima de Obama , clicada por Jason Reed e estampada na capa de Época, provocou em mim uma avalanche de sentimentos  que me transportaram pelo tempo e  espaço, aparentemente adormecidos nos  confins de minha alma.
A sensação, que persiste, paradoxalmente, é de  certeza e dúvida, de realidade e sonho, de alegria e tristeza, de medo e esperança, de início e fim.
O agora todo-poderoso, Barack Hussein Obama, confunde-se na foto com  o menino de 7 anos que chorou a morte de Martin Luther King Jr.
Seu olhar é um túnel por meio do qual podemos penetrar a história do povo norte-americano, pelo menos até os idos de um tempo que O Vento Levou.
Sua pele mulata não é negra e nem branca: é miscigenação de milhares de brancos e negros que, com sangue , suor e muitas lágrimas, iguais às dele, por muitos anos e continentes, escreveram a saga de um povo amado por alguns, odiado por outros, mas nunca objeto de indiferença.
O percurso da lágrima que me faz lembrar de Rosa Parks, agora une, em suas margens, os Estados do norte aos do sul, Plessy  a  Fergusone, e, qual uma longa estrada, marca os caminhos percorridos por Luther King, e a linha de conduta de John F. Kennedy, ao proibir a discriminação por raça, credo, cor ou nacionalidade.
O percurso da lágrima é linha de um dos muitos gráficos que buscam decifrar o futuro de um mundo à beira da recessão e de um mercado financeiro mundial que espera por uma reforma urgente.
O percurso da lágrima é chaga que une o sofrimento dos povos que vivem guerras, Iraque e Afeganistão, e que drenam recursos que poderiam ser aplicados na busca da paz e da extinção da fome no mundo.
O percurso da lágrima lembra as muralhas de uma China cuja  ascensão econômica deixa perplexos os economistas e parece percorrer com dificuldade as estepes de uma Rússia que volta a sonhar em ser a mesma potência internacional que foi um dia.
O percurso interrompido da lágrima parece simbolizar fim do bloqueio  a Cuba, o cessar das lutas entre judeus e palestinos, o fim da prisão de Guantánamo, em Cuba.
A lágrima, enfim,  denuncia a fragilidade de cada um de nós perante a  inexorabilidade dos desígnios do Grande Arquiteto do Universo:
Ontem, um Hussein , o Saddam, era o inimigo maior; hoje, um outro Hussein, é o presidente.
Ontem, um Osama destruía as Torres Gêmeas; hoje, um Obama é a esperança de dias melhores.
Ontem, uma lágrima no rosto de um negro denunciava os sofrimentos  passados pelos escravos; hoje, a mesma lágrima promete para o futuro um mundo em que poderá prevalecer a liberdade , a igualdade e a fraternidade.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

COMENTÁRIOS RECEBIDOS DE AMIGOS ESCRITORES:

Meu Presidente,
Decidamente, você é hoje o melhor articulista que leio. Seu texto A Lágrima de Obama é obra-prima, aula de história, sociologia, filosofia e política. Pena que um grande jornal  como … não perceba isto e fica importando gente de fora, enquanto a prata da casa é preciosa. Meus parabéns! Você pode explicar como cresceu tanto? Divulgue a receita…
Um abraço.
Ely Vieitez Lisboa

 

Caro Tórtoro,

Mais uma vez, você produziu um belo texto. Gostei muito. Por que você não escreve para esses jornais diários de Ribeirão Preto? Falta de tempo ou porque  eles não pagam?  Seus textos são muito mais interessantes do que os de muita gente que está faturando algum por aí, com assuntos chatos e numa clara intenção de massagear seu próprio ego.
Abs.
Antonio Cassoni

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