É comum as pessoas reivindicarem seus direitos.
Lembrando Clarice Lispector : Porque há direito ao grito. Então eu grito.
Direitos humanos, direitos autorais, direitos da mulher, direitos trabalhistas, direitos lingüísticos, direitos do consumidor, direitos da criança, direitos, direitos e mais direitos.
E os deveres ?
Alguém já ouviu falar do Instituto dos Deveres Humanos, ou na Faculdade de Deveres: deveres da mulher, da criança, do jovem, dos idosos ?
Na dúvida, entrei nos sites de busca. Talvez eu estivesse errado nos meus conceitos, ou preconceitos.
No Google, encontrei 103 milhões de opções de consulta para o item “direitos” e somente 2 milhões para “deveres”.
No Yahoo, 151 milhões para “direitos” e 3 milhões para “deveres”.
É importante frisar que, mesmo quando encontrei informações sobre “deveres” , a palavra vinha acompanhada dos “direitos: direitos ( em primeiro lugar) e deveres disso ou daquilo, desse ou daquele, em segundo lugar.
Não é à toa que alguns jovens, por exemplo, no colégio, só exigem. Exigem professores com paciência ilimitada, exigem tolerância nos seus atrasos, exigem tolerância nos esquecimentos na entrega de tarefas, trabalhos e pesquisas, exigem conceitos ou notas maiores do que aqueles que realmente fizeram por merecer. Esquecem-se, porém, de que não cumpriram com seus deveres. Não estudaram, não pesquisaram, não ficaram atentos às aulas, não acordaram a tempo de ir ao colégio dentro do horário previsto, não foram dormir cedo para acordar cedo, não fizeram suas tarefas.
Não é sem motivo que alguns funcionários exigem maiores salários, melhores condições de trabalho, direitos trabalhistas, tolerância para suas faltas constantes e até para suas falhas por incompetência.
Mas não participam de cursos de reciclagem, não fazem nenhuma tarefa além do estabelecido em contrato, não procuram ficar algumas horas a mais, ou trabalhar algum dia extra para compensar dias perdidos.
O presidiário matou, roubou, estuprou, corrompeu, aleijou, fez órfãos e viúvas que nunca mais verão seus entes queridos. Na prisão, durante os motins, queima colchões, destrói cozinhas, arrebenta tudo o que encontra pela frente, ou seja, não cumpre e nem cumpriu seus deveres.
Mas, ao ficar na prisão, exige direitos: boas condições de higiene, comida da boa e na hora certa, colchões para dormir, visitas semanais. Eles têm ao seu lado os Direitos Humanos e o ECA.
E os necessitados de transplantes de órgãos ? Ficam nas filas exigindo seu órgão, forçando autoridades, exigindo o direito de continuar vivendo. E eu pergunto: durante suas vidas, foram doadores ? Doaram sangue espontaneamente ? Propuseram-se a doar seus órgãos ? Cumpriram o dever de cidadãos ?
Tenho certeza de que a maioria não o fez.
E assim não dá . É por isso que tudo está como está.
Se todos cumprissem seus deveres, não haveria necessidade de ECA , e nem de defensores de Direitos Humanos de quem quer que seja.
É preciso mudar essa mentalidade. Não podem existir direitos sem os respectivos deveres.
Eca, meleca, é a exigência de direitos, desvinculada do cumprimento de respectivos deveres.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO