DANÇAR É TOCAR

 

“A educação pode tudo : ela faz dançar os ursos

Leibniz

 

O quadro “Dança dos Famosos”, da TV Globo, representou um grande incentivo para aqueles que tinham vontade de dançar, mas não sabiam como faze-lo.
Não é o meu caso.
Não sou nem sombra de Fred Astaire ou Gene Kelly, e minha companheira, nem fisicamente, lembra Cyd Charisse: mas gostamos muito de dançar, aos domingos, no Clube de Regatas.
Apreciamos dançar uma dança simples, quase dois pra lá, dois pra cá, mas com um razoável  ritmo, e muita pegada.
Gosto de tratar com carinho o corpo da mulher.
Fico feliz quando danço e vejo dançar os dois sexos juntos, colados, e em harmonia.
Nunca fui adepto do disco dancing, em que homem e mulher dançam separados, e o homem não mais conduz, e nem sequer toca o corpo da mulher.
É muito bom na dança juntinho, sentir por alguns momentos a coordenação, o tato, o carinho, a cooperação, a paciência, e a perseverança existente entre um par que se propõe divertir-se com a dança.
É sabido que uma mulher precisa de muito mais informações, do que um homem, para se apaixonar e , na dança, é permitido a ela avaliar — e com ele permanecer por longos anos de vida conjugal de alta qualidade  — o homem na delicadeza do trato, na firmeza da condução, no carinho do toque, no companheirismo e no significado que ele dá ao seu par.
Na dança penso que o homem tem uma série de obrigações, tais como : cuidar da mulher, planejar o rumo, achar espaços, variar o ritmo conforme a música, segurar com firmeza e orientar delicadamente o corpo da mulher.
Temos, minha esposa e eu , a nossa música preferida ,  Borbulhas de Amor , de Fagner: sinto-me um peixe, a enfeitar de corais sua cintura, fazendo silhuetas de amor à luz da lua, saciando uma loucura.
Gostamos de um bom samba, Martinho da Vila e sua Mulheres, Benito Di Paula  e o clássico  Charlie Brown, Jamelão, e tudo que venha de  Vinícius e Toquinho,  Altemar Dutra , Júlio Iglesias.
Ouvir letras que são verdadeiros poemas — e cantar junto — relembrar os clássicos, voltar no tempo, namorar  ao som de Ray Conniff, trocar olhares e um selinho de vez em quando.
Não preciso de mais que um metro quadrado para curtir meu baile, meu forró, meu momento melhor de cada final de semana.
Às vezes alguns bailarinos pensam que somente eles estão no salão e rodam braços, fazem acrobacias, levantam pernas, sacodem cabelos, atropelam , empurram, querem dar show durante o qual a maioria quer somente se divertir: confundem salão de baile com palco.
Algumas mães, com sorriso  maternalmente tolo  de quem faz de conta que não sabe o que está fazendo , soltam seus pimpolhos por entre os dançadores, sem a mínima noção de que estão pondo em risco suas crias —  pisão, encontrão, tropeção — além da inconveniência :  confundem salão de dança com playground.
Mas, para algumas horas de bom divertimento, tudo vale a pena , se a alma não for pequena.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

ARTIGOS, EDUCAÇÃO