DO INFERNO À COMPANHIA DAS ESTRELAS.
“A voz de Heller é extraordinária e a tenacidade de sua narrativa parece esconder uma inquietação bonita e dolorida. Um daqueles livros que o faz feliz só por poder lê-lo”!
Junot Diaz – The Wall Street Journal
Quem leu Inferno, de Dan Brown, e depois leu, Na Companhia das estrelas, de Peter Heller, fica desconfiado de que Bertrand Zobrist, — um cientista transumanista radical (afirma que os seres humanos deveriam usar a tecnologia para transcender as fraquezas inerentes a nossos corpos físicos ) , descobridor de uma praga biológica que mataria boa parte da população da Terra para resolver o problema da superpopulação —, conseguiu seu objetivo: um mundo pós-apocalíptico, devastado por uma gripe.
No livro de Heller, Hig conseguiu escapar à gripe que matou todo mundo que ele conhecia. Sua esposa (Melissa) e seus amigos estão mortos, e ele sobrevive no hangar de um pequeno aeroporto abandonado com seu cão, Jasper, e um único vizinho, Bruce Bangley, que odeia a humanidade, ou o que restou dela.
Mas Hig não perde as esperanças. Enquanto sobrevoa a cidade destruída em um avião dos anos 50, um Cesna 1956, sonha com a vida que poderia ter vivido não fosse pela fatalidade que dizimou todos que amava. Hig é um guerreiro sonhador. E tem imensa vontade de gente, apesar da desilusão que se abateu sobre ele : “Não se pode metabolizar a perda. Ela está nas células do rosto, no peito, atrás dos olhos, nas entranhas. Músculos, tendão, ossos. É você inteiro”. Por isso é capaz de arriscar todo seu futuro quando, num certo dia, o rádio de seu avião captou uma mensagem que o leva a encontrar Cimarron (Cima) e o Papi.
As páginas de Na companhia das estrelas nos fazem lembrar um Pequeno Príncipe ( Exupéry ) — mas, do século XXI —, em que o personagem vivia sozinho e que começou uma viagem que o levou de seu pequeno planeta (do tamanho de uma casa) à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu repensar o que é realmente importante na vida.Peter Heller ao repensar sua vida — inclusive na perda de seu amado companheiro de viagens, o copiloto Jasper, num dos momentos, para mim, mais marcantes do livro — percebe, da mesma forma que Saint-Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.
Tal qual Antoine, em Terra os homens, Hig — para quem a aviação é deliberadamente romântica, uma fuga contra a perspectiva limitada do mundo: é liberdade, imensidão, silêncio: “O império do homem é interior” — pousa num local distante e encontra Cima e seu pai, chegando à conclusão de que “”Às vezes, um bom coração é tudo de que um homem precisa”.
Enfim, ler Peter Heller é estar o tempo todo na companhia das estrelas, é dividir com o autor uma “mistura de sensibilidade, percepção da realidade, humor, desejos primitivos, perdas e ganhos…E tudo escrito em uma linguagem espetacular, com urgência e ritmo. Das mais belas narrativas de todos os tempos”.
É ir do Inferno de nossa realidade, ao céu de uma ficção aclamada pela critica.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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