ZEQUINHA “LOVE”

ZEQUINHA-LOVO“De repente do riso fez-se o pranto/ Silencioso e branco como a bruma.. “
Soneto de separação – Vinícius de Moraes
Todos nós conhecemos a expressão : fulano é um amor de pessoa.
Era assim meu amigo Zequinha Lovo.
Sob a cobertura formada pelo tanque ( piscina de grande profundidade ) do Clube de Regatas, Zequinha passava os finais de semana jogando cartas com os amigos — sempre ao lado da fiel companheira Lúcia — e comentando, quando nos encontrávamos, sobre o nosso São Paulo.
Zequinha era sempre otimista, mesmo quando nosso time do coração não andava bem das pernas, como ele: receberia , em breve, alta do pós-operatório de uma cirurgia feita no joelho esquerdo.
No final do ano de 2013 chegou a confidenciar — com um sorriso matreiro de canto de boca — diante da má campanha do tricolor paulista: agora só vou acompanhar partidas de tênis.
Na manhã do dia quatro de maio, ocupamos, mais uma vez, e a última, o mesmo espaço: eu lendo meu livro e ele jogando suas cartas, já sem o meião branco ( sinal de avançada recuperação ) usado por indicação médica que ele, na semana anterior, dizia combinar com o calção preto e a camisa vermelha.
Por volta das treze e trinta, levantei meu olhar das páginas do livro A culpa é das estrelas, e trocamos , à distância, olhares sorridentes e acenos de mão que ele, por instantes, deixou de apoiar sobre o andador: eu nunca poderia imaginar que seria um aceno de adeus.
E é essa a imagem de Zequinha que ficará marcada a ferrete em minhas retinas cada vez que eu me lembrar de grandes amigos que se foram: “Faça uma lista de grandes amigos / Quem você mais via há dez anos atrás / Quantos você ainda vê todo dia /Quantos você já não encontra mais…”.
José Luiz Lovo, Zé Luiz da Tia Candinha, Zequinha para os amigos, cativava pelo bom humor, característica que o acompanhou até a última mensagem deixada no Face: “Em fase final de recuperação, o pior já passou, os dez primeiros dias, dia 6 terça feira, devo receber alta, e já estarei a disposição do Felipão. Rsrsrsrs”.
Infelizmente não será chamado por Felipão , mas terá a honra de assistir à próxima Copa do Mundo ao lado de Luciano do Vale.
As mensagens crepitam como tochas a iluminar caminhos nas mídias sociais enquanto é preparada a moderna pira para cremação. Da mesma forma que Viriato — o maior de todos os Lusitanos, levado pela cremação para junto de seu deus Arencio, enquanto guerreiros dançavam em redor da pira funerária — nosso Zequinha é privado da vida, mas não da imortalidade, que a memória que dele teremos, para sempre lhe reserva.
Enfim, alma liberta, seguirá seu caminho purificado pelo Senhor Agni, Deus do Fogo.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
WWW.tortoro.com.br

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