LI E GOSTEI: EU SOU MALALA

MALALA: A ANNE FRANK DO PAQUISTÃO

“Curar uma doença (contra a vacina da Poliomielite) antes que ela se manifeste é contra a lei islâmica, anunciava Fazlullah no rádio”

Nossos alunos, em sua grande maioria, não gostam de estudar.
Uma boa parte deles gosta de ir ao colégio: o que não é a mesma coisa.
Também não gostam de ler, mas se gostassem, eu indicaria o livro Eu sou Malala – a história da garota que defendeu a importância e o direito à educação e, por isso, foi, covardemente, baleada pelo Talibã.
O livro de 342 páginas, escrito por Christina Lamb — jornalista e correspondente no Paquistão e no Afeganistão desde 1987. Formada em Oxford e Harvard, é autora de cinco livros e vencedora de diversos prêmios, incluindo o Prix Bayeux, honraria mais prestigiosa da Europa para correspondentes de guerra. Atualmente trabalha para o Sunday Times — é quase um diário cuja autora tem um final mais feliz do que a jovem judia, Anne Frank.
E quem é Malala.
“O mundo a conheceu no dia nove de outubro de 2012, quando foi baleada por extremistas do Talibã por insistir no direito das mulheres à educação. Mas Malala não é apenas um símbolo da luta por uma causa nobre. É uma personalidade excepcional, criada num ambiente rodeado por adversidades impensáveis ao leitor de países habituados à democracia.
Eu sou Malala conta a história de uma menina que, aos dezesseis anos, foi convidada a dirigir-se ao mundo em um discurso na sede das Nações Unidas, em Nova York. Apesar de seus poucos anos de vida, sua trajetória condena os impasses de uma família exilada pelo terrorismo global e os obstáculos à valorização da mulher no mundo muçulmano.
Em linguagem simples, direta e confessional, o livro acompanha a infância da garota no vale do Swat, no Paquistão – onde seu pai dono de uma escola particular – os primeiros anos de estudante, as asperezas da vida numa região marcada pela desigualdade social, as belezas do deserto e as trevas da vida sob o Talibã.
Escrito em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, este livro é uma janela para a singularidade poderosa de uma menina cheia de brio e talento, mas também para um universo religioso e cultural repleto de interdições e particularidades, muitas vezes incompreendido pelo Ocidente.
A história de Malala renova a crença na possibilidade de que a vida de uma única pessoa é o bastante para inspirar e modificar o mundo”.
Recentemente li Doze Anos de Escravidão, a inacreditável história real de Solomon, um cidadão de Nova York seqüestrado em Washington em 1841 e resgatado em 1853 de uma plantação de algodão perto do rio Vermelho, na Louisiana.
Poderíamos acreditar que a escravidão de Solomon só aconteceu porque ele viveu no século XIX.
Mas, lendo sobre a vida de Malala e sua família sob o regime Talibã , no Paquistão, constamos, novamente incrédulos, que ainda existem outros tipos de escravidão em pleno século XXI, e tudo em nome de um livro sagrado, o Corão, que, em hipótese alguma, orienta seus seguidores às práticas absurdas do Talibã que ironicamente, por exemplo, quer professoras e médicas mulheres para atender mulheres, mas impede que as meninas frequentem a escola para se qualificarem para essas atividades.
O livro nos permite ver os mais recentes acontecimentos mundiais—o onze de setembro e o World Trade Center, as repercussões do lançamento do livro Versos Satânicos, a invasão do Paquistão pelos russos, e outros — pelos olhos de uma família paquistanesa de educadores, e viver um mundo que parece irreal pelo medo que cerca cada minuto da vida de seus moradores.
Nesse mundo em que a liberdade é artigo de luxo — “Os agentes do Estado devem proteger os direitos dos cidadãos, mas a situação é dificílima quando não conseguimos diferenciar o Estado do não Estado e quando não podemos confiar no Estado para nos proteger do não Estado” — não existe um Lula e nem PT, mas existe um Fazlullah, líder Talibã: “Na verdade, ele é um sujeito que fugiu da escola secundária e cujo nome verdadeiro nem é Fazlullah, mas as pessoas não lhe deram atenção. Meu pai ( conta Malala) ficou deprimido porque a maioria tinha começado a se deixar envolver pelas palavras de Fazlullah, pelo seu romantismo religioso. É ridículo, dizia meu pai (Ziauddin, um homem culto e proprietário de uma escola particular) , mas esse pretenso sábio está difundindo a ignorância”.
Qualquer semelhança é mera coincidência.
Enfim, conheça Malala e seu atual trabalho em defesa de uma causa mais do que justa, e saiba de suas impressões sobre as diferenças entre sua vida no Swat e em Birmingham, na Inglaterra.
CAPA-DE-EU-SOU-MALALA
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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