LI E GOSTEI: O BARCO VAZIO

CAPA-BARCO-VAZIO-OSHO

TORRE DO SILÊNCIO…PARA O EGO

“Você veio até mim. Deu um passo perigoso. Correu um risco, porque perto de mim você pode se perder para sempre”.

Osho

Acabo de ler O Barco Vazio, de Osho.
Não é à toa que o romancista Tom Robbins considerou o autor: “o homem mais perigoso desde Jesus Cristo”.
Para começo de conversa, vou seguir o conselho do autor: não quero mais encontrar esse livro pelo caminho, não vou marcar páginas, não vou fazer anotações porque (penso eu) peguei o peixe, e vou me esquecer da armadilha. As palavras de Chuang Tzu me transmitiram conteúdo e agora é importante eu me esquecer das palavras.
“O propósito de uma armadilha para peixes é pegar peixes, / E, quando os peixes são capturados, / A armadilha é esquecida “.
Vou ficar somente com o conteúdo — Chuang Tzu, místico chinês —, porque concordo com o autor: “Cristo é o conteúdo, o cristianismo é apenas uma palavra; Buda é o conteúdo, o Dhammapada é apenas uma palavra; Krishna é o conteúdo, o Gita não é nada além de uma armadilha”.
Os zoroastrianos (parses) acreditam que o corpo humano é puro e não algo que deva ser rejeitado. Quando uma pessoa morre o seu espírito deixa o corpo num prazo de três dias e o seu cadáver é impuro. Uma vez que a natureza é uma criação divina marcada pela pureza, não se deve poluí-la com um cadáver. Na prática, esta crença implicou que os cadáveres dos zoroastrianos não fossem enterrados, mas colocados ao ar livre para serem devorados por aves de rapina, em estruturas conhecidas como Torres do Silêncio (dakhma).
Depois de ler Osho, meu compromisso para 2015, assim como fazem os parses com os corpos de seus falecidos, tentarei colocar meu ego em uma Torre do Silêncio a fim de que ele seja devorado, permitindo-me ser, dentro do possível, um barco vazio.
Posso garantir que a leitura de Osho não é para quem sofre de dissonância cognitiva: poderá ter um surto psicótico
Para quem não sabe, dissonância cognitiva é um termo da psicologia social, que se refere ao conflito entre duas ideias, crenças ou opiniões incompatíveis. Como esse conflito geralmente é desconfortável os indivíduos procuram acrescentar “elementos de consonância”, mudar uma das crenças, ou as duas, para torná-las mais compatíveis. Este efeito foi descrito pela primeira vez numa experiência realizada nos Estados Unidos por Leon Festinger e Carlsmith em 1959. Em defesa ao ego, o humano é capaz de contrariar mesmo o nível básico da lógica, podendo negar evidências, criar falsas memórias, distorcer percepções, ignorar afirmações científicas e até mesmo desencadear uma perda de contato com a realidade (surto psicótico).
Mas eu gostei muito porque incomoda, acaba com certezas, fere paradigmas, e como estudioso de misticismo admirei a vida que Osho dá às mensagens taoistas de 3000 anos atrás sobre a autorrealização, e quando ele fala da ausência do ego, ou seja, o “barco vazio”; sobre viver a vida com espontaneidade e encontrar a morte com a mesma atitude.
As trezentas e duas páginas — que falam de políticos, ambição, comunismo e capitalismo, filosofia (inimiga da vida) , teologia, marxismo, riso, casamento, poesia, palavra, maturidade, a importância do inútil, fé, estupidez de Aristóteles, aristocracia e democracia, Buda, Hegel, Hitler, a inutilidade de Deus, a insensatez de Confúcio — dessa publicação da Cultrix me permitiram aprofundar a compreensão de mim mesmo numa época do ano — final de dezembro, início de janeiro — em que nos sentimos motivados a mudar, se possível, para melhor.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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