FANÁTICOS E A DISSONÂNCIA COGNITIVA

DISSONÂNCIA Ultimamente tenho excluído pessoas de minha lista de relacionamentos no Facebook.
Não tenho paciência para agüentar opiniões de fanáticos de todos os tipos que não querem conversar a respeito de suas ideias, querem brigar, impor, doutrinar, apesar de seus argumentos não se basearem na realidade que os rodeia.
São pessoas que ao invés de argumentarem, preferem ofender de forma grosseira e gratuita.
São indivíduos que não se abrem para os fatos reais, a novas ideias, a novas teorias, a novas descobertas no campo do conhecimento humano: seguem cegamente um livro, um líder, uma linha filosófica, uma ideologia.
E tudo que não se encaixar em suas conclusões petrificadas são produtos de inimigos, não só deles, mas do bairro, da cidade, do país, do mundo.
Não são barcos vazios, e nem querem saber o que é isso, porque nunca passariam das primeiras frases de um livro de Osho ou de qualquer outro pensador livre.
Eles olham para as pessoas fora de seu grupo — de outro time de futebol, de outro partido político, de outra igreja, de outra região — com ódio, nojo, desprezo, misturando arrogância com aversão.
Só querem ouvir o que lhes convém: são pessoas que sofrem de dissonância cognitiva
Segundo um artigo de Dan Ariely, basicamente, a Dissonância Cognitiva é um estado de tensão que ocorre quando uma pessoa tem duas cognições (ideias, atitudes, crenças, opiniões) que são psicologicamente inconsistentes. É a velha moral dupla que nos permite tomar uma atitude enquanto pregamos outra.
Suas raízes estão intrinsecamente ligadas à imagem que construímos de nós mesmos. A maioria de nós — e em particular os fanáticos — tem uma auto avaliação positiva, segundo a qual se consideram competentes, morais e espertos. Mas como somos seres humanos – e, por isso, passíveis de erros: apesar dos fanáticos não saberem disso – temos o impulso de nos justificar e evitar a responsabilidade por qualquer ação que se revele prejudicial, imoral ou estúpida preservando, assim, nossa imagem diante do espelho.
A culpa é sempre do outro. Ela nunca é dele, do fanático.
A verdade é que o cérebro tem pontos cegos – óticos e psicológicos – e um dos seus truques mais brilhantes é forjar a ilusória noção de que, pessoalmente, eles não existem. De certa forma, a teoria da Dissonância Cognitiva é uma teoria de pontos cegos; de como as pessoas intencionalmente deixam de enxergar aquilo que lhes desagrade, para que não notem eventos e informações vitais capazes de questionar seus comportamentos e convicções. E nós, humanos, somos, principalmente os fanáticos, tão alheios aos pontos cegos quanto o peixe é alheio à água onde nada.
A diferença é que os humanos normais podem, um dia, chegar ao conhecimento de seus pontos cegos: os fanáticos, não.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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