JERÔNYMO FELTRE: UMA DESPEDIDA NADA ABRUPTA

JERONIMO-FELTRE
Na manhã da sexta-feira que sucedeu ao Corpus Christi de 2015, abri meu Face, e li a nota de falecimento: “Comunico o falecimento do Grande Educador Sr. JERÔNYMO FELTRE . O sepultamento será amanhã, 05.06.2015, às 9h30, no cemitério de Bonfim Paulista. Jerônimo foi Diretor do Othoniel Mota na década de 70”.
Pensei: Grande Jerônimo, Grande Mestre, um Mestre Inesquecível.
Jerônimo, nascido em 1923—vide biografia no site da ARE–Academia Ribeirão-pretana de Educação : www.areribeirao.org.br/site/?page_id=351— sempre foi um Professor sério e exigente e, como tal, cuidava bem da Língua Pátria.
Em 2002, quando juntamente com membros da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras, idealizei e fundei a ARE- Academia Ribeirão-pretana de Educação, sugeri — e foi aprovado por unanimidade —o nome de Feltre para a Cadeira no. 11 do sodalício: isso logo após ele haver sido homenageado pelo Prefeito Roberto Jábali em evento no Teatro Pedro II, na oportunidade em que estiveram presentes trinta e três grandes nomes da Educação Ribeirãopretana.
Mas, por incrível que pareça, o que marcou a presença de Jerônimo em minha vida escolar foi quando, numa de suas aulas, ele corrigiu um dos nossos colegas do Científico de Engenharia ( hoje correspondente ao Ensino Médio) que pronunciou a palavra abrupto, assim, sem o hífen, e não ab-rupto, pronúncia que o Mestre defendia.
Por isso — nesse momento em que deixamos de conviver com alguém que, por mais de noventa anos, foi a parte da História viva da Educação em Ribeirão Preto — em homenagem a essa passagem marcante do meu inesquecível Mestre pela minha vida, segue a transcrição integral de um artigo do escritor Sérgio Rodrigues retirado do blog Sobre palavras:
“Assistindo à transmissão de treinamento da F1, o comentarista pronunciou a palavra ‘abrupto’. Ocorre que já estudei uma doutrina que defendia a pronúncia dessa palavra como ‘ab-rupto’ e não ‘abru…’ como normalmente escutamos. Alguma saída?” (Gualter Sena de Medeiros).
Embora exista mesmo um vespeiro em torno desse adjetivo, a saída pela qual pergunta Gualter, em minha opinião, é bem simples: devemos ficar com a grafia “abrupto” e com a pronúncia que obrigatoriamente a acompanha, segundo as regras do português, com o br soando como em “abrir” e “abrigo”.
Em Portugal é assim, não existe discussão. É só no Brasil que se estabeleceu a polêmica, mas ela tem muito de artificial: simplesmente não existiria mais se alguns lexicógrafos e gramáticos não fossem tão apegados a um uso antigo, um tanto pedante e praticamente caído no esquecimento – o da pronúncia ab-rupto, que os portugueses chamam de brasileirismo. Mas quantos brasileiros você conhece que falam assim?
O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras reconhece como corretas as duas grafias (e supõe-se que as duas pronúncias): ab-rupto e abrupto. O dicionário Houaiss faz o mesmo, mas dá ab-rupto como forma preferencial (!), explicando que “manteve-se a grafia assim consagrada”, embora ela fira o acordo ortográfico, como forma de representar graficamente a pronúncia clássica ab-rupto.
É difícil entender essa opção ultraconservadora do melhor dicionário da língua portuguesa. Até um estudioso como Napoleão Mendes de Almeida, que não podia ser chamado de progressista, considerava absurda a grafia “ab-rupto” por se tratar de uma palavra que – diferente por exemplo de “sub-reitor” – não surgiu em português, mas veio formada do latim abruptus.
A maioria dos dicionários atuais não registra a forma ab-rupto – embora alguns continuem recomendando a pronúncia ab-rupto mesmo assim, numa incongruência entre letra e som. Pelo menos o Houaiss acrescenta em seu verbete a ressalva de que “a ABL aceita também a grafia sem hífen por sua pronúncia se ter popularizado na língua com o r do encontro br soando como uma vibrante alveolar”.
Ou seja, soando como em “abrir” e “abrigo”, exatamente como a (quase?) totalidade dos brasileiros fala e escreve na vida real. A língua já fez sua escolha no caso de abrupto. Só falta os lexicógrafos se emendarem, deixando de tratar como variante tolerada o que é hegemônico e consagrado dos dois lados do Atlântico”.
Enfim, até outro dia, caro Mestre.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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