LI E GOSTEI: JARDIM DE INVERNO

PARTE DA HISTÓRIA OU CONTO DE FADAS ?

“Levanto-me. Meus joelhos doem e meus pés estão inchados, mas não me importo. Sou de Leningrado.”

Tomei conhecimento de Jardim de Inverno por intermédio de um comentário sobre esse livro, feito por Dorama, uma amiga advogada, ,durante conversa informal num final de semana, na lanchonete do Clube de Regatas.
Logo adquiri a obra de Kristin Hannah para ler e enriquecer o acervo da biblioteca do Clube. CAPA-JARDIM-DE-INVERNO
Valeu a pena.
Ler Jardim de Inverno, num dia frio de junho, à beira Pardo, e sob um vento cortante — enquanto apreciava a paisagem coberta por uma neblina que eu diria romântica, e que transformava em sombras fugidias as silhuetas de pescadores e suas varas e carretilhas, distribuídas pelas extensas margens do rio — foi, no mínimo, uma ótima experiência.
Isso sem mencionar que Meredith e Nina vivem momentos muito parecidos com os meus e de minha irmã diante da idade avançada de meus velhos pais: eu e personagens sentindo a cada momento que “a vida se desdobra quando você a viveu o suficiente. Alegria e tristeza fazem parte do pacote; o truque, talvez, seja permitir-se sentir tudo, mas agarrar-se à alegria um pouquinho mais, porque nunca se sabe quando um coração forte pode desistir”.
Resumindo a obra, Meredith é uma mulher sensata e bem sucedida. Tem marido e duas filhas, é conhecida como cabeça dura e consegue se virar em qualquer situação; Nina é estabanada e desleixada, apesar de ser rica e famosa. Visita seus pais apenas em datas especiais e sempre some sem avisar. O que essas duas mulheres tão diferentes tem em comum? São irmãs!
Anya é uma mulher fria e calada, que só se comunica bem com as filhas quando narra para elas, na escuridão do quarto, contos de fadas. É mãe de Meredith e Nina, as duas meninas culpam a mãe pela infância sofrida, pois ela nunca deu atenção para suas filhas e sempre as humilhou, mas será que as duas entendem os verdadeiros motivos por sua mãe ser assim?
No leito de morte de seu querido pai, as meninas se deparam com um pedido inusitado. O pai pede para que elas se aproximem da mãe e façam com que ela termine o conto de fadas que contava para as meninas na infância, e que na realidade são histórias reais de um passado terrível. O pedido é estranho, mas vai mudar drasticamente a vida das duas irmãs e mostrar que não devemos julgar o futuro, sem antes conhecer o passado.
E no passado de Anya estão os anos da Rússia de Stalin, da Segunda Guerra e Leningrado.
“No final de dezembro, a cidade lentamente congela até a morte. Está escuro quase o tempo todo. Pássaros caem do céu como pedras. Os corvos morrem antes;lembro-me disso. Está incrivelmente frio. Vinte e cinco abaixo de zero torna-se normal. Os bondes param nos trilhos como brinquedos de criança que deixaram de ser interessantes. Os canos de água estouram. Você não imagina o que consegue comer. Há rumores de que as salsichas que estão sendo vendidas nos mercados são feitas com carne humana. Os bolos de óleo são feitos do que é varrido nos armazéns e serragem, alcançando preços exorbitantes. Mesmo de pois de fervida, a água tem gosto dos corpos que estão sobre a superfície congelada do rio Neva”.
Enfim, vale a pena, como dura experiência de vida, ler as mais de quatrocentas páginas escritas por Kristin Hannah, autora best-seller do The New York Times e vencedora de inúmeros prêmios literários, inclusive o Golden Heart, o Maggie e o National Reader’s Choice.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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