SEREI EU AC TÓRTORO OU MATTIA PASCAL ?

RENASCIDO-DO-SUS “Sem morrer, não há como renascer”

Tengo – 1Q84

Falecido no dia 1º. de junho — acidente de automóvel, com atestado de óbito e tudo o mais a que um morto tem direito — pelas mãos de um idiota operador do SUS, de Coroados-SP, acabo de renascer, dia 13 de agosto de 2015, após pouco mais de dois meses, pelas mãos de Cleber Cabral – Analista de Sistemas – Middleware, via Marcelo Borges, Chefe da Divisão de Informática da Secretaria da Saúde de Ribeirão Preto.
Foi um caso de MAD – “Morte” à distância.
Como disse um amigo meu, ao saber do que aconteceu comigo: “Kafka não morreu. Ao contrário de você, em todos os sentidos. No Brasil não existe absurdo, aprenda isso. O Absurdo é nossa realidade”.
Posso garantir que vivi um momento Kafkaniano como o personagem de O processo, Josef K. Nesse romance, a ambiguidade onírica do peculiar universo kafkiano e as situações de absurdo existencial chegam a limites insuspeitados. A ação desenvolve-se num clima de sonhos e pesadelos misturado a fatos corriqueiros, que compõem uma trama em que a irrealidade beira a loucura.
Foi assim que me senti.
O ocorrido também me fez lembrar de um livro escrito em 1904, “O Falecido Mattia Pascal”, um romance em que, com apreciável dose de humor negro, Luigi Pirandello explora os mistérios de identidade. Nele se conta a história de um homem que, cansado da sua vida de arquivista e de marido, decide viajar até Monte Carlo, onde a sorte lhe permite obter no cassino uma enorme fortuna. É no regresso a casa que toma conhecimento de que, por engano, foi considerado morto. Decide começar uma nova vida com fortuna e outro nome, pensando assim libertar-se de compromissos e obrigações. Mas depois de viajar algum tempo sem estabelecer ligações de amor ou amizade, sente que o anonimato não o torna livre nem feliz.Decide fixar-se numa pensão em Roma, onde se apaixona e tudo se complica.
Nada a ver comigo, a não ser o fato de termos “morrido” por engano.
Não quero começar uma nova vida: estou satisfeito com a que tenho.
Só não estou satisfeito com esse país em que qualquer um pode modificar seus documentos e nada é feito.
Confesso que tenho até um pseudônimo: Dr Edel T. Weiss que utilizei muito para divulgação de meus poemas no jornal A Cidade numa época em que algumas pessoas não me suportavam por minhas posturas um tanto quanto radicais.
Mas nada além disso.
Enfim, graças à intercessão de amigos e irmãos — Anjos da Guarda que sempre me acodem nos momentos mais difíceis, e que não são poucos — para alegria de alguns que me amam, e decepção dos que me odeiam: renasci, não das cinzas, mas da memória de algum computador do Ministério da Saúde, em Brasília, cuja Ouvidoria, imediatamente, deu-me orientações para procurar pelo Secretário da Saúde de Ribeirão Preto, Dr Stênio Miranda, a quem aproveito para agradecer atenção dispensada ao meu caso.
Em tempo: já estou com meu novo Cartão Nacional de Saúde.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

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