LI E GOSTEI: PABLO ESCOBAR – MEU PAI

UM LIVRO PARA SER LIDO PELOS NOSSOS PABLOS

“Agradeço ao meu pai, que me ensinou o caminho a não ser seguido”

Juan Pablo Escobar

“Quem é dom Pablo, essa espécie de Robin Hood do estado de Antioquia que desperta tanta excitação em centenas de miseráveis, cujos rostos se iluminam de esperança, algo que não é fácil de ser explicado em meio a esse ambiente tão sórdido?
“[…] O mero fato de dizer seu nome produz todo tipo de reações, que vão da alegria explosiva a um profundo temor, de uma grande admiração a um desprezo cauteloso. O fato é que para ninguém o nome de Pablo Escobar é indiferente.”
Essa imagem de Pablo é a mesma que a de muitos de nossos políticos que, da mesma forma que o famoso narcotraficante, roubam milhões e distribuem migalhas, migalhas essas que representam muito para quem as recebe tendo em vista o abandono, por parte do governo, de milhões de famílias.
Penso que os atuais envolvidos na Lava-jato (nossos Pablos) e em outros escândalos, vendo o que ocorreu com a família de Pablo Escobar, após a morte dele, sabem que o mesmo pode muito bem ocorrer aos seus familiares: esse pessoal deveria ler urgentemente o livro Pablo Escobar – meu pai para tomarem conhecimento do que acontecerá quando perderem o poder e não puderem mais contar com os amigos comprados/subornados a peso de dólar e euro.
Também é curioso como a sociedade corrupta julgou a família de Pablo Escobar após sua morte. É incrível ver como podem pessoas sem moral alguma, sem ética, sem o mínimo de amor ao próximo, passarem a ser “juízes” severos quando filhos, esposas, irmãos de grandes narcotraficantes ficam sem proteção da justiça: falsos moralistas cujos valores de julgamento variam de acordo com o poder econômico e político das pessoas julgadas.
Para quem tem dinheiro tudo pode, porque tudo pode ser comprado: tudo mesmo.
Para quem não tem dinheiro só resta ser vítima de inescrupulosos representantes de uma lei cega, surda e muda.
Na sinopse apresentada na contracapa do livro vemos um pouco do que é a obra: “Até a publicação desta obra, acreditávamos que tudo já havia sido dito sobre Pablo Escobar, um dos piores criminosos da história da América Latina. Mas os muitos relatos disponíveis sobre ele foram contados por alguém de fora, nunca a partir da intimidade do lar. Mais de vinte anos depois da morte do chefe do Cartel de Medellín, Juan Pablo Escobar viaja em direção a um passado que não escolheu a fim de mostrar um lado inédito de seu pai, o homem capaz de chegar aos piores extremos de crueldade, ao mesmo tempo em que professava amor infinito por sua família. Este não é um livro de um filho que busca a redenção para seu pai, mas um relato estarrecedor das consequências da violência”.
No site de O Dia li um depoimento do filho de Pablo — que tem 38 anos, se considera pobre e garante não ter nenhum valor que ultrapasse três dígitos em sua conta bancária, além de ter sido acostumado a uma vida luxuosa quando criança, e hoje tem uma rotina modesta na Argentina, onde trabalha como arquiteto — um resumo do que veio a acontecer com ele e seus familiares após a morte do pai em que o episódio sobre a morte do narcotraficante (que aconteceu em 1993, quando ele tinha 16 anos) é um dos que mais parecem lhe incomodar: “Temos certeza de que ele se suicidou, mas a Colômbia perde se contar a verdadeira versão. Meu pai falava de suicídio na mesa do jantar, ele pesquisou com médicos onde teria que dar o tiro para que fosse fatal. Repetia que a arma dele tinha 15 balas, que 14 delas seriam dos inimigos e a última seria dele. E foi. O tiro que o matou estava a três milímetros de onde ele sabia que era para atirar. Após a publicação, recebi uma mensagem sutil em que pediam para eu não pisar mais na Colômbia. Por sorte, acho que não vou precisar voltar. A pergunta sobre o que restou da nossa fortuna deve ser feita aos inimigos do meu pai. Uma vez, quis saber quanto dinheiro meu pai tinha. Ele me respondeu que chegou a ter tanto que perdeu as contas. Imagino algo maior que US$ 150 milhões, entre aviões, helicópteros, carros, motos, casas, terrenos, edifícios inteiros. Não há uma cifra exata, porque na máfia não há registros. Assim que meu pai morreu, houve uma série de reuniões com cartéis para definir o que seria feito com tudo que tínhamos. Eram pessoas nos cobrando tudo o que gastaram a vida inteira atrás do meu pai. Colocaram as armas na mesa e falaram: ou entregam ou morrem. Tive dez dias para entregar tudo. Não havia aparato militar para me defender. Os bandidos nos tomaram tudo. Antes, via como um roubo. Hoje, como um favor que fizeram. Quando os inimigos escolheram não me matar, eles também me condenaram a ser pobre. E essa segunda parte eles cumpriram muito bem”.
Enfim, eis um livro que vale apena ser lido quando se quer conhecer um pouco mais da podridão humana em todos os setores e níveis da sociedade.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

CAPA PABLO ESCOBAR

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