AC TÓRTORO: NO LANÇAMENTO DA 2ª. EDIÇÃO DE CARTAS A CASSANDRA.

Na noite de 29 de abril de 2017, no Hotel Nacional , rua Duque de Caxias, 1313 – Ribeirão preto- SP, ocorreu o lançamento da segunda edição do livro de Ely Vieitez Lisboa, Cartas a Cassandra.
Cartas a Cassandra: obra logo premiada após seu lançamento e a segunda edição vem com uma belíssima capa de Antônio Lisboa, prólogo de Waldomiro Peixoto e um artigo (Fortuna crítica) de Antônio Carlos Tórtoro — publicado abaixo.
Segundo prefácio de Waldomiro Peixoto: “Cartas a Cassandra é um romance epistolar, primeiro no gênero na literatura brasileira. Possui um fio narrativo que perpassa por toda a obra: a tese de que “toda mulher é Cassandra”. São cartas que se permitem ler como pequenos contos.
A partir da tese, Ely cria uma personagem narradora e outra interlocutora. Do relacionamento cada vez mais intenso entre as duas, a autora desenvolve um questionamento de fundo existencialista que aborda problemas da juventude à velhice ao longo de mais de sessenta cartas.
Cartas a Cassandra é um romance de expiação e redenção pelo sofrimento”.

Ely Vieitez Lisboa tem catorze livros publicados: ensaios, contos e poemas. Crítica literária, articulista do jornal A Cidade, de Ribeirão Preto, e do tabloide Metrópolis. Escreve também no Jornal Sudoeste, de São Sebastião do Paraiso(MG) e eventualmente no Linguagem Viva, de São Paulo.

No mesmo evento foi lançada, por Irene Coimbra (Editora), a revista Ponto & Vírgula, março/abril , ano 5, edição 32.

FORTUNA CRÍTICA
Antônio Carlos Tórtoro*

“Eu tenho medo dos meus EUS / que a qualquer
momento insano /possam emergir das profundidades/
de algum pélago desconhecido/ negro, abissal!”

Ely Vieitez Lisboa

Vai longe o tempo em que trocávamos cartas.
Agora trocamos e-mails e mensagens pelos celulares.
Nossos jovens já não sabem mais o que são cartas (conhecem as de baralho) e selos (apesar de saberem bem o que são os selinhos).
Marcelo Panguana (Escritor moçambicano, jornalista, cronista, poeta, autor de contos reconhecido internacionalmente) recorda : “Sei de cartas que ficaram conhecidas na história da cultura universal, desde os tempos do antanho até aos nossos dias. De correspondência entre filósofos, escritores, cientistas e outros que tais. Essa correspondência permitiu não apenas a discussão dos problemas do seu tempo, como também permitiu a possibilidade de os intervientes ensaiarem a sua capacidade especulativa, a sua imaginação, nessa tentativa de estender o seu pensamento até às proximidades da sabedoria. Recordo-me, por exemplo, das maravilhosas cartas que o “mestre” David Mestre escreveu para o escritor baiano Jorge Amado, enaltecendo a sua arte, a beleza da sua escrita, falando sobretudo do mundo dos afetos e desafetos em que os dois viviam. Da correspondência entre Goethe e Schiller, cada um atuando para o outro como um tipo de interlocutor, aprumando assim a sua imaginação e a sua escrita. Entre Castilho e Camilo. Ou entre Tchékov e Górki. Todos eles escreventes de cartas que resistem ao tempo e que correm o risco de se tornarem legados eternos da nossa civilização”.
Assim também são as cartas com mais de cento e sessenta anos que ainda nos encantam e enriquecem em Cartas a Victor Hugo — Coleção Mulheres e Letras da editora Horizonte .
Mas nada se compara às cartas de Ely.
“Passo a mão pelo meu ventre. Ninho vazio, gorado. Saber uma possível causa da barriga estéril não destrói a cicatriz, a marca, o rótulo, a roleta russa às avessas, falsa, sem nenhuma bala. Ou com todas. Sinal de ausência, morte. A negação de uma possibilidade de vida. Isso me torna a assassina e o carrasco do filho que nunca tive”.
Ely, nesse aspecto, não tem nada a ver com a personagem narradora de seu livro, Cartas a Cassandra, um lançamento da FUNPEC, romance epistolar, primeiro no gênero na Literatura Brasileira: Ely é uma parideira.
Ely consegue parir imortais e universais momentos que trazem à luz “questionamentos de fundo existencialista quando aborda problemas da juventude à velhice dela , a mulher , ao longo de mais de sessenta cartas” : e desnuda a Cassandra escondida em cada ser humano sensível , seja ele homem ou mulher.
Com prólogo de José Castello , Cartas a Cassandra é uma obra em que “ a crueldade perpassa as páginas do livro , dureza do homem que a domestica ( a mulher) , rigor que ela exige de si a cada passo , estado limítrofe entre a esperança e o desengano , que Ely capta com suas histórias secas , brutais , temperadas em reflexões ligeiras , mas hábeis . Daí ter escrito um romance cheio de vida , que não se lê sem grande dose de inquietação ; um desses livros que , em vez de distrair, vem desassossegar. Mas que outra função cabe à Literatura num mundo tão disperso e impessoal como o nosso?”.
Nessa época de Internet e e-mails , de mensagens curtas , truncadas e até confusas , de palavras abreviadas , Ely , utilizando-se de uma leitora anônima , quieta em seu canto , costura , com suas irretocáveis cartas , “ uma longa colcha de histórias curtas , compactas , substantivas , agressivas , que , com frieza e elegância , devassam , pelo interior , a condição humana feminina”.
Sem medo de rimar, afirmo: Ely merece um Jabuti.
Essa não é uma opinião somente minha, um professor de Matemática, amigo suspeito, simples amante da leitura, mas é a opinião de algumas pessoas do meio literário, profundas conhecedoras de Literatura, que têm manifestado as melhores impressões sobre o livro em questão, sem mencionarmos a obra de Ely em seu todo.
Vale a pena violar essas maravilhosas correspondências e conhecer tecnicamente a obra por meio do primoroso prefácio do escritor Waldomiro Waldevino Peixoto produzido para enriquecer essa segunda edição de Cartas a Cassandra em que ele conclui: “A partir da tese, EVL cria uma personagem narradora e outra interlocutora. Do relacionamento cada vez mais intenso entre as duas, a autora desenvolve um questionamento de fundo existencialista que aborda problemas da juventude à velhice ao longo de mais de sessenta capítulos-carta, com os quais os leitores vão paulatinamente se identificando e interagindo. “Cartas a Cassandra” é um romance de expiação e redenção pelo sofrimento”.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br
Acadêmico, poeta com vários livros publicados, articulista, com oitenta artigos sobre Educação, autor do livro Repercutindo Educação (2011).

Fotos de Elza Rossato e Camilla Campos – Grupo Amigos da Fotografia de Ribeirão Preto

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