DECLAMAÇÃO DO POEMA “TEMPLO MARCADO” , DO LIVRO “ECOS” DE ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

 

TEMPLO MARCADO

 

Do meu livro de poemas “ECOS”

Observação: poema escrito no HC de Ribeirão Preto – SP, enquanto eu aguardava meu pai, Claudio Tórtoro, receber as aplicações na radioterapia, no final da década de 80.

 

 

Procuro por Deus ali, naquele hospital.

Como sempre, busco em tudo os sinais da presença divina.

 

O sinal do Senhor em Caim,

Num  rosto marcado, surgiu e tocou-me profundamente,

Como ferro em brasa, fundo, dolorido

Gravando cruz lilás no mais íntimo do meu ser.

 

Um apito qual do metrô, soou.

É dada a partida após o bater de teclas, compassado.

 

Passando por portões/estações numeradas

De branco em círculo cinza demarcadas.

Angustiado homem perde-se nas paralelas do corredor profundo.

 

Luz verde/esperança revezando com vermelho/desespero.

Passa a vida, fica a morte nesse jogo Cósmico,

Enquanto  a enfermeira anota papéis, fichas, esquemas,

Sob o rangido das portas que se abrem

E batem, num ruído que ecoa penetrando almas.

 

Alvos corpos se cruzam nos corredores,

Qual senhores da vida flutuando, angelicais,

Entremeados a sombras azuis, que se arrastam,

Presas a tubos, ansiedades, sofrimentos, ais.

 

O monitor insensível de TV

nada vê naquela tétrica dança,

Além dos esquálidos corpos assinalados.

E um zumbido/ronco incessante e lento

Mascara a ação dos raios da esperança.

 

Compassados apitos contam tempo/aplicação,

Enquanto burburinho de vozes e assovios,

Ao longe encobrem temeroso ressoar de campainhas

Que chama alguém, que lembra vida em comunicação.

 

Novo apito, sai um, entra outro corpo esquálido que se esvazia.

 

O que sai passa as mãos na cabeça, vagarosamente, tenso,

Como a tentar tirar dela a doença e os pensamentos,

Para deixá-los todos naquela sala fria.

 

Luzes brancas de pureza rara, no teto dos corredores,

Iluminam futuro negro e incerto, nas almas que ali transitam.

E nesse contraste constante entre vida e morte,

A semelhança entre ambas apresenta-se clara.

 

Vida e morte, pólos complementares de uma mesma história,

Limiar entre finito e infinito na estação/metrô da vida.

Realidade imponderável a ser vivida nesse Universo,

Não importa mais quando nem como viver a existência.

 

Ter, ali já não é preciso nem importante.

Ser, agora, é a vital luta pela sobrevivência.

 

Raios Gama invisíveis rondam paredes frias

E Deus eu vejo, ao lado do GAMATRON DA SIEMENS.

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