MÉDICOS E MÉDICOS: HISTÓRIAS DA MEDICINA

“A consulta inicia-se no momento em que o paciente entra na sala, e isso vale também para seus acompanhantes” .

Dr Djalma Cano

Eu estava diante da tela em branco do computador, pensando em como iniciar artigo sobre o livro Histórias da Medicina, do Dr Djalma Cano, quando toca o celular e recebo a notícia de que a cintilografia que fiz  no dia anterior, com resultado previsto para depois de uma semana, não havia detectado nenhum problema em meu miocárdio.
Numa quase sexta-feira de Carnaval, ao acabar de ler o último capítulo , “De volta para o futuro”, em que o escritor  Djalma — meu falecido colega de Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto, com quem, infelizmente, não tive a honra de conviver  —, conta suas experiências em uma UTI, após sofrer um AVE isquêmico, senti-me, como ele, à espera do resultado dos meus exames : “meus pensamentos variavam do otimismo ao pessimismo em frações de segundo, e como exercício de concentração fixava-me naqueles momentos de felicidade em que tudo se resolveria bem,  e em tempo recorde, mas logo me assaltava a ideia…” de que uma isquemia poderia ser detectada em meu teste ergométrico, e ser grave.
Mas, felizmente, o Dr Marcos Vinícius Papa, amigo e cardiologista, pratica o que o poeta Djalma chama de Medicina Humanizada — da mesma forma que pensava e agia o saudoso Dr Luiz Carlos Raya, meu colega de Academia Ribeirãopretana de Letras — e um telefonema, já no cair da tarde, permitiu-me passar, com minha família, um Carnaval despreocupado.
E por falar em bons médicos, voltemos às Histórias da Medicina, que na realidade são exemplos reais de como um profissional da medicina pode ser “político, se necessário; sacerdote se precisar; professor de vida, se for a ocasião; sendo sempre humano,  com a missão de acolher aqueles que sofrem”.
Nas páginas escritas por esse cidadão especial, que buscava, acima de tudo, a sabedoria, encontrei “médicos” em situações muito parecidas já vividas por mim: médicos que nunca aceitariam consultar o issei,  Toshio, acompanhado de esposa, três filhos, dois netos e um de seus genros, todos dentro do consultório; médicos que, em hipótese alguma, conversariam, dentro de uma camioneta, sobre doença da esposa do mecânico que o atendeu no incêndio da Brasília; médicos mercenários que nunca atenderiam gratuitamente, estando em férias,  uma jovem numa modesta colônia de pescadores; médicos justiceiros que aterrorizam pacientes por julgá-los indignos de sua atenção por erros cometidos; médicos que fazem questão de nem olhar para o rosto de pacientes que aguardam atendimento, imaginando que há “necessidade do orgulho, da soberba, para que os pacientes saibam quem é o médico na sala de consultas”.
Alguns médicos não imaginam como é importante um sorriso, um toque no ombro, o saber ouvir e observar com curiosidade na hora do desespero daqueles que os procuram.
O Dr Djalma Cano sempre exerceu e ensinou que “o paciente não necessita apenas da cura do mal que o afeta, mas ele quer ser acolhido, ele quer ser ouvido, seja no consultório particular, seja no consultório da rede pública, seja numa favela, seja num apartamento de luxo”.
Enfim, Histórias da Medicina é um conjunto de vinte e sete pérolas literárias (fatos da vida real), é um livro para ser lido e ter seu conteúdo refletido por todos os estudantes de Medicina… e por alguns médicos já formados.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br
70_12169-1

ARTIGOS, Li e gostei, LITERATURA