LI E GOSTEI: CONVERSAS SOBRE POLÍTICA

CONVERSAS SOBRE POLÍTICA

“ O que eu quero é um candidato que seja capaz de fazer as pessoas sonharem,um candidato cujo rosto irradie a pureza dos que vão morrer, para que o povo ressuscite dos mortos”

Rubem Alves

Rubem Alves — para quem  a perda da esperança pode ser uma manifestação de lucidez  — em suas Conversas Sobre Política, Editora Verus,  nos enche de esperança ao  dizer: “ A esperança é de que, distantes da pantomima do poder, os sonhos não tenham morrido. Como na estória da Bela Adormecida, eles dormem, mais profundos que pesadelos do cotidiano. E um dia acordarão. E o povo, possuído pela sua beleza esquecida, se transformará em guerreiro e se dedicará à única tarefa que vale a pena, que é a de transformar os sonhos em realidade. Essa é a única política que me fascina. Como o Guimarães Rosa, vivo na esperança da ressurreição dos mortos”.
E nesses tempos de eleições, no estilo que o caracteriza — instigante, reflexivo, corajoso, verdadeiro, transparente, por vezes crítico e mordaz —, Rubem Alves tem a capacidade de expressar em palavras aquilo que intuímos, e consegue nos tirar do conformismo e da resignação para nos lançar para a frente, fazendo com que  nos posicionemos diante da realidade política atual.
Seria muito importante que, principalmente jovens eleitores, lessem seus artigos que fazem pensar, sonhar, e nos levam a reivindicar da política o cumprimento de seu papel, de sua verdadeira missão — a de “sonhar os sonhos do povo e se  dedicar a transformá-los em realidade”.
Quanto a nós, não tão jovens, a leitura de Conversas provoca nosso mundo interior, nossas convicções, fazendo-nos repensar com mais acuidade nosso ser político e nosso ser na política.
Conversando — muitas vezes usando fábulas — com seu leitor sobre jardinagem, ratos e queijos, ovelhas, lobos e tigres, máscaras, gênios da garrafa, peixes, sapos, Chapeuzinho Vermelho, Mike Tyson, Lula, frigideiras, o pedagogo, poeta e filósofo de todas as horas, cronista do cotidiano, contador de estórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros e psicanalista, Rubem Alves, em  153 páginas, que podem ser lidas de uma tirada só, deixa um incômodo, uma provocação, um desafio: retirar do poder os políticos de profissão e, no lugar deles colocar políticos por vocação, aqueles que, por serem do povo, sonham os sonhos do povo e se dedicam a transformá-los em realidade.
E lembra as palavras de Miguel de Unamuno: “Pelo que me diz respeito, jamais de bom grado me entregarei nem outorgarei a minha confiança a condutores de povos que não estejam penetrados na ideia de que, ao conduzir um povo, conduzem homens; homens de carne e osso; homens que nascem, sofrem e, ainda que não queiram morrer, morrem; homens que são fins em si mesmos, e não meios; homens, enfim, que buscam a isto a que chamamos felicidade”.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

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