LI E GOSTEI : 44 CARTAS DO MUNDO LÍQUIDO MODERNO

MUNDO LIQUIDO MODERNO: INÓSPITO À EDUCAÇÃO

“O mundo que chamo de ‘ líquido ‘ porque, como todos os líquidos, ele jamais se imobiliza nem conserva sua forma por muito tempo. Tudo, ou quase tudo em nosso mundo está sempre em mudança”.

Zygmunt Bauman

No livro, 44 cartas do mundo líquido moderno, de  Zygmunt Bauman, somente duas cartas ocupam mais de um capítulo: Estranhas aventuras da privacidade e O mundo é inóspito à educação ( 3 capítulos cada).
No primeiro caso , “ a entrada da telefonia móvel na vida social eliminou, para todos os fins práticos, a linha divisória entre tempo público e tempo privado; entre espaço público e espaço privado; casa e local de trabalho; tempo de trabalho e tempo de lazer; ‘aqui’ e ‘lá‘ “.
No segundo, “ O consumismo de hoje não visa ao acúmulo de coisas, mas à sua fruição instantânea e imediata. Se assim é, por que razão ‘ o pacote de conhecimento’ obtido durante uma passagem pela escola ou universidade deveria ser excluído dessa regra universal ?  Por essa ideia de que a educação possa ser um ‘produto’ destinado à apropriação e conservado para sempre é desanimadora e sem dúvida não beneficia a institucionalização da escola”.
Eis aí uma nova realidade da qual a escola e a educação são reféns.
Eis o motivo pelo qual muitos consideram a escola uma “casa da sogra” — muitos  jovens acham que podem usar o celular como se estivessem na sala de estar de suas residências — e também o motivo pelo qual ter que estudar para  tirar nota (para ser aprovado) passou a ser motivo de amplas discussões entre docentes e pais que acham absurda a reprovação escolar do jovem que não demonstra haver assimilado os conhecimentos básicos exigidos pela escola.
E o pior: essa realidade educacional está continuamente mergulhada no mundo líquido moderno em que padecemos de excesso de informações e não sabemos como filtrar as notícias que importam em meio a tanto lixo inútil, que não sabemos captar as mensagens significativas entre o alarido sem nexo.
E nessas 44 cartas — flashes da vida contemporânea: Twitter, Facebook, moda, telefones celulares, proliferação de doenças nervosas, Barack Obama, solidão, isolamento, terceirização do trabalho, entre outros temas — Bauman separa o joio do trigo, o que é relevante daquilo sem substância, dos alarmes falsos.
Como nosso mundo líquido está em constante movimento, somos perpetuamente arrastados em suas ondas: indivíduo em busca de sua identidade.
“O mundo em que vivemos é um sistema de complexidade além da imaginação, seu futuro é um grande desconhecido, e irá continuar fatalmente assim, o que quer que a gente faça. Previsões só podem ser adivinhações, e confiar nelas é assumir um enorme risco. O futuro é imprevisível porque, pura e simplesmente, ele é indeterminado. A qualquer momento, há mais de uma rota possível para o curso futuro dos acontecimentos”.
Mas restam disso tudo um alerta e uma mensagem: se não resistirmos à sociedade de consumidores, se nos fecharmos no individualismo imposto, só cabe nos preparar para nossa própria biodegradação e reciclegam. Segundo Bauman, apenas juntos poderemos travar essa luta contra os ‘males sociais’ — do contrário, perderemos.
Eis aí um desafio para uma nova educação, na escola de hoje, com vistas para o futuro.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO70_11697-1

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