ARTIGO: MINHAS FÉRIAS DIFERENTES – DONO DE CASA POR UNS DIAS

 

MINHAS FÉRIAS DIFERENTES – DONO DE CASA POR UNS DIAS

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”

Fernando Pessoa

Tanto o trabalho de dona de casa quanto o de um Orientador Educacional são fundamentais e exigem habilidades específicas, mas operam em contextos bastante distintos:  hoje sou testemunha desta diferença.

A dona de casa é responsável por uma variedade de tarefas que garantem o funcionamento eficiente do lar. Isso inclui a limpeza, a organização, a preparação para o momento das refeições, etc.

O Orientador Educacional, por sua vez, atua no ambiente escolar, auxiliando os alunos no processo de desenvolvimento acadêmico e pessoal.

Mas ambos precisam ter uma excelente capacidade de organização para cumprirem suas tarefas diárias.

A principal semelhança entre os dois papéis está na gestão do bem-estar e no apoio ao desenvolvimento de outras pessoas. Tanto a dona de casa quanto o Orientador Educacional têm como objetivo criar um ambiente favorável para o crescimento e prosperidade daqueles ao seu redor, seja no contexto familiar ou educacional. Ambos precisam ser adaptáveis e estar preparados para lidar com situações inesperadas., mostrando resiliência e flexibilidade.

Portanto, apesar de atuarem em esferas diferentes, o trabalho de uma dona de casa e de um Orientador Educacional compartilha a essência de cuidar, organizar e promover o desenvolvimento humano, o que evidencia a importância e o valor de ambas as funções na sociedade.

Agora imaginem eu, um Orientador Educacional, fazendo — ou tentando fazer — o trabalho de uma dona de casa, durante vinte dias.

Tudo aconteceu por haver minha esposa Lu, minha Luz, haver colocado uma prótese no joelho esquerdo.

Após três dias no hospital, ao lado dela, voltamos para casa.

Utilizei minhas habilidades de planejamento para criar uma rotina doméstica. Mentalmente fiz uma lista das tarefas diárias, estabelecendo quais seriam as mais importantes e que precisariam ser feitas imediatamente. Eu não poderia me sobrecarregar tentando fazer tudo de uma vez.

Na semana anterior à cirurgia, fui até cada eletrodoméstico, acompanhado de perto por Lu, lápis e caneta nas mãos, anotando os segredos do funcionamento de cada um deles: forno microondas, lavadora de louças, torradeira elétrica, centrífuga de frutas. Uma turnê pela minha própria cozinha…cujos segredos e detalhes eu desconhecia.

Afinal de contas eu sempre fui um Rei Xerxes que tenho ao meu lado uma Ester particular, sempre pronta a atender meus mínimos desejos: ela nunca me permitiu cuidar de nada nos serviços da casa. Isso até antes do dia 11 de julho, um sábado.

Tudo anotado cuidadosamente, teve início meu estágio de “Dono de Casa”.

Preparar o café da manhã. Separar os remédios. Tratar a gaiola das calopsitas, colocar o lixo na rua, abrir as janelas, jogar água no quintal, preparar a mesa para o almoço. Tirar a mesa do almoço. Preparar as louças, ligar a lavadora Brastemp, varrer o chão, deixar a chave no portão da rua — para atender mais rapidamente correio, Ifood, Mercado Livre, etc — conferir horários de tomar remédios — anti-inflamatórios, anticoagulante, analgésicos, remédio para hipertensão —, fazer curativos, preparar joelho com filme de PVC para não molhar no banho, fazer banho de luz intravermelha sobre a costura de 18 pontos no joelho,  cuidar para que fiquem ao alcance das mãos  andador ou muletas, preparar o café da tarde, preparar a mesa para o jantar, recolher louças e talheres, guardar a gaiola de calopsitas, fechar as janelas, colocar cadeados nos portões, assistir um pouco de TV, e, enfim, dormir.

Sempre reservei momentos para cuidar de mim porque o autocuidado é essencial para se manter a saúde mental e física: leitura de livros no Kindle, andar dois quilômetros, tomar sucos e comer frutas.

Sempre estive preparado para ajustar meus planos iniciais, conforme necessário: nesses dias foi importante ser flexível e paciente comigo mesmo e  com minha Lu.

As estratégias traçadas anteriormente foram importantes para eu manter o equilíbrio entre as responsabilidades domésticas e pessoais, facilitando a adaptação do neo-cuidador, e dono de casa, a essa nova realidade.

Enfim, dever cumprido, e pronto para iniciar minhas atividades escolares: valeu a pena, cresci muito com essa nova experiência de vida.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
ancartor@yahoo.com

 

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