“Só quem vive bem os agostos é merecedor da primavera”
Miryan Lucy de Rezende – Escritora e Educadora Infantil
Setenta, setenta e um, setenta e dois, setenta e três, setenta e quatro, setenta e cinco…
Pode não parecer, mas esta é uma contagem regressiva.
Escritor que sou, não sei qual será minha última palavra escrita — no Houaiss o último verbete é zunzum —, mas sei que ela está por vir, e talvez, até não haja porvir: mas ouço rumores, sinais, de que virá, com certeza: rugas, perda de massa muscular, aumento de pressão, níveis mais elevados de glicose…
Digo que talvez não haja porvir porque nossa vida depende da ocorrência de Cisnes Negros — grandes acontecimentos que são inesperados e que trazem junto grandes consequências, boas ou ruins, de acordo com o escritor Nassim Nicholas Taleb, em seu livro A Lógica do Cisne Negro — como a nossa passagem para outra dimensão.
Dia vinte e dois de agosto de dois mil e vinte e quatro o casamento de meu corpo com minha alma completará Bodas de Brilhante: três quartos de um século em plena harmonia.
Vivemos tempos de Olimpíada de Paris, mas já penso que poderei estar com Los Angeles na abertura da próxima, em dois mil e vinte e oito.
Completar 75 anos de vida é uma marca significativa em qualquer mês, mas fazê-lo em agosto traz consigo uma aura especial. Agosto, conhecido como o mês do recomeço e da renovação, simboliza a transição do inverno para a primavera no hemisfério sul, refletindo o renascimento e a continuidade da vida.
Alcançar essa idade é um testemunho de resiliência, sabedoria acumulada e experiências ricas que moldaram não apenas a vida da pessoa, mas também das pessoas ao seu redor.
Celebrar 75 anos significa honrar a jornada de uma vida bem vivida, reconhecendo os desafios superados e as conquistas realizadas: é momento de fazermos um levantamento de todos que já nos deixaram no percurso percorrido pelo trem da vida, e valorizarmos, ainda mais, aqueles que continuam conosco em alguns dos vagões desse trem.
Esse momento é uma oportunidade de refletir sobre as contribuições feitas à família, à comunidade e ao mundo. É um tempo para expressar gratidão pelas memórias criadas, pelas lições aprendidas e pelas pessoas que compartilharam essa jornada, em especial minha esposa Lu, minha Luz.
Agosto, com sua simbologia de novos começos, também encoraja a olhar para o futuro com esperança e entusiasmo, celebrando a continuidade da vida e as novas possibilidades que ainda estão por vir.
Quanto dos próximos setembros, se eles vierem, todos sabemos o que esperar: esperamos a arrebentação das cores, que com seus mais variados nomes vêm em forma de flores; que eles desarrumem e espalhem suas folhas e levante suas poeiras.
Enfim, vamos aceitar as esperas, mas colocando floreiras na janela, e já estou preparando não a minha última palavra a ser escrita, mas a última frase: vivi para servir.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
ancartor@yahoo.com