ARTIGO – HOMENAGEM PÓSTUMA – MADRE REGINA : UMA URSULINA ESPECIAL

 

 

“Aprofunde suas raízes e pense grande “

Madre Regina Trautmann

 

Piscou, a vida se vai…

E assim, dia 5 de agosto de 2024, uma grande e inesquecível amiga, Elisabeth Trautmann, Irmã Regina, se foi,  e levou com ela parte da minha história, que deixarei para a  Educação ribeirãopretana.

Ela não conseguiu chegar aos 95 anos: deixou-nos antes que a primavera chegasse, e comemorasse com ela seu aniversário no dia 5 de setembro.

Não esperou nem por mais um onomástico: 22 de agosto, dia de Nossa Senhora Rainha, Regina.

Conheci Irmã Regina, pouco depois dos primeiros anos da década de oitenta, final do século XX, e começo de uma amizade que deverá se perpetuar pela eternidade.

Irmã Regina, era fleumática:  sempre manifestando seu valor dominante, pela firme constância com que executou suas obras, que não foram poucas. Já em 1949 (quando nasci) e 1950, ela deixou a Alemanha para concretizar, com seu idealismo e determinação, a fundação e crescimento da Escola Normal Santa Ângela, de Paraisópolis, que conheci durante uma viagem com um grupo de professores, quando tivemos uma rica troca de experiências educacionais.

Tranquila, equilibrada, assertiva, ativa, determinada, digna de confiança, eficiente, organizada, ela, desde que chegou ao Colégio Santa Úrsula — onde eu era Coordenador Pedagógico — estabeleceu sua forma de trabalho.

Gostava de diálogos francos e abertos, e não dispensava reuniões ao final das sextas-feiras, com seus colaboradores diretos, coordenador Pedagógico (eu) ,  coordenador de disciplina/esportes (José Augusto Gullaci) e orientadora (Neide Peixoto). Eram sempre momentos de descontração, mas também fonte de ideias a serem aplicadas no nosso trabalho diário, e/ou correção de percurso.

Em contato com Irmã Regina, conheci uma Igreja que eu não conhecia: uma Igreja que se pautava pelos princípios de Santa Ângela, fundadora da Ordem das Ursulinas.

Logo que ela chegou a Ribeirão, transformei-me em pessoa de confiança da nova direção, o que me dava acesso livre à sala dela e à uma pequena, mas rica biblioteca: trocamos vários livros e discutíamos o conteúdo dos mesmos. Irmã Regina tinha um sotaque alemão bem leve, mas que ela insistia que era baiano, devido ao tempo que viveu em Salvador.

Algumas vezes conversamos sobre a Educação na Alemanha nas décadas de trinta/quarenta: e os banhos nas piscinas quase congeladas, durante os invernos europeus.

Também foram ricas as viagens para a região de Cotia, sede das Ursulinas, onde participei de riquíssimos e edificantes momentos do calendário católico.

Com Irmã Regina na Direção, lancei meu primeiro livro de poemas , Ecos, nas dependências do Colégio, em 1991: vídeos do lançamento nos endereços do Youtube:
parte 1 de 2  : https://www.youtube.com/watch?v=dQ4Crfub74g
parte 2 de 2 : https://www.youtube.com/watch?v=CG1GNu2B1C0.

Com incondicional apoio da Irmã Regina na Direção, realizamos, dentre outras, uma Gincana Cultural, durante a qual alunos clicaram fotos em preto e branco de detalhes do antigo Santão, essas fotos deram origem ao meu livro Piacevolezza: termo italiano que significa “agradabilidade” ou “satisfação”. Há um vídeo no Youtube com depoimentos de ex-alunos e funcionários durante lançamento da obra, lançada no Shopping Santa Úrsula (patrocinadora).
https://www.youtube.com/watch?v=NEclrlSYYNU&t=9s.

Certo dia, de maneira imprevista, fui chamado à sala da Direção. Nesse momento Irmã Regina fez-me um convite: para eu colocar no papel tudo que deveria existir no prédio de um Colégio dos meus sonhos. Estranhei a proposta porque eu ainda não sabia sobre a demolição do prédio antigo, na Rua Prudente de Morais, e sobre a construção das novas instalações, as atuais. Algum tempo depois, fui convidado novamente para, na sala dela, ver a planta do novo Colégio: e ela apontava no desenho, onde seria a minha sala de Coordenador Pedagógico. Nunca entrei nessa sala depois de construída, por motivos que não desejo mencionar no momento, mas fiquei muito feliz.

Sob a Direção da Irmã Regina, ampliei minhas experiências sobre Educação, participando de Congressos e Convenções em Salvado, Ilhéus, Belo Horizonte, São Paulo.

Durante a Copa do Mundo de 1990, ganhei um presente da Irmã Regina: uma camiseta da seleção alemã de futebol: ela gostava de tirar fotos quando estávamos distraídos, de surpresa, e de dar presentes. Era raro, mas quando atingia esses seus objetivos, deixava escapar uma risada franca e contagiante.

Enfim, é com enorme pesar, que me despeço de uma mulher extraordinária. Sua partida deixa um vazio imenso em meu coração, mas também um legado inesquecível de amor, caridade e sabedoria.

Cada momento compartilhado, cada gesto generoso e cada palavra de encorajamento permanecerão vivos em minha memória para sempre.

A saudade já é profunda, mas serei eternamente grato por ter tido a oportunidade de conhecer alguém tão especial.

Que seu espírito continue a iluminar nossas vidas e nos inspire a sermos melhores a cada dia.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
ancartor@yahoo.com

ACADEMIAS, ARL- ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE LETRAS, ARTIGOS, BIOGRAFIA, Colégio Santa Úrsula, EDUCAÇÃO, LITERATURA