ARTIGO: NUVEM PASSAGEIRA

 

NUVEM PASSAGEIRA

“Eu sou nuvem passageira / Que com o vento se vai…”

Hermes Aquino

 

Ultimamente tenho tido pesadelos frequentes, e o que mais se repete é aquele em que entro em minha sala de trabalho, e a encontro desocupada, com gavetas e arquivos vazios.

Tenho escrito bastante nesse período de férias de meio do ano, talvez porque meus pesadelos representem o que está ocorrendo psicologicamente comigo: estou sentindo que minha memória já não é a mesma, o tempo está esvaziando todas as gavetas e armários onde guardo as histórias da minha vida.

Escrever é hoje, para mim, uma maneira de guardar nas nuvens, OneDrive, todos os momentos importantes que marcaram minha existência, é uma forma de tentar não me transformar numa nuvem passageira.

Escrevendo, garanto a mim mesmo, que poderei retornar aos meus momentos mais importantes, chegada a hora em que a neblina do inverno de minha vida, ofuscar de forma irreversível a visão dos meus dias passados.

Penso que, se eu puder ler meus textos — artigos e poemas de meus livros e site — reviverei com olhos rasos d’água, de forma mais completa, as imagens que marcaram de forma indelével minha biografia: serei, no futuro, o que eu conseguir, hoje, registrar por escrito.

Como diz a música de Nelson Ned: “Mas tudo passa, tudo passará / E nada fica, nada ficará / Só se encontra a felicidade /Quando se entrega o coração”… às formas que nos permitem a literatura.

Os fatos do passado adquirem uma relevância especial para mim que me encontro no crepúsculo da minha existência. Eles oferecem um consolo, uma compreensão mais plena da vida e a oportunidade de deixar uma marca duradoura nas gerações que virão.

É nesse momento que as lembranças de tornam companheiras constantes, trazendo consigo um misto de nostalgia e reflexão: e eu não quero perder esses momentos.

Cada evento vivido, cada decisão que foi tomada, cada emoção sentida passa a ser revisitada com um olhar mais atento, compreendendo a profundidade e as consequências de cada experiência.

O passado, nesse estágio da vida, não é apenas um depósito de memórias — como pode parecer para os jovens — mas uma fonte de sabedoria. Ele oferece lições preciosas que, muitas vezes, só se revelam plenamente com o passar do tempo.

As lembranças permitem que se enxergue o próprio caminho de maneira mais clara, reconhecendo erros e acertos, e entendendo como cada fato contribuiu para a construção do ser que somos e fomos.

Além disso, o passado serve como elo de conexão com as gerações futuras com a qual não conviverei.

Ao partilhar minhas histórias e experiências, os casos de minha vida transmitirão, espero, ensinamentos que poderão guiar, ou não, os mais jovens em suas próprias jornadas.

Assim, o passado não apenas molda o presente, mas também influencia o futuro, perpetuando-se por meio das lições e memórias que são passadas adiante.

Escrevo, não só para não morrer de tristeza, mas para, um dia, reviver alegrias.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras.
www.tortoro.com.br
ancartor@yahoo.com

 

 

 

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