ARTIGO: E SE O ALUNO NÃO CONCORDAR….

 

E SE O ALUNO NÃO CONCORDAR …

A cultura africana é plural, muito rica e exerce influência no Brasil e no mundo.”

Na minha infância brinquei com crianças negras, na pré-adolescência eu passava grande parte do dia com negros, meu genro é negro, um Pastor que admiro é negro, no colégio sou amigo de todos os funcionários negros.

Logo, estou à vontade para falar sobre o assunto que segue.

A pergunta que não quer calar é: e se o aluno, autor da redação, não concordar com o que pensam os corretores de sua redação, ou suas idéias divergirem dos textos motivadores apresentados pela comissão?  Os  argumentos do aluno serão aceitos ou serão considerados estando fora da curva da Cartilha de Redação do Enem opiniões sem embasamento “científico”?

 

Então vejamos:

Desafios para a valorização da herança africana no Brasil: Tema da redação do Enem 2024.

No Enem, os candidatos devem elaborar um texto no formato dissertativo-argumentativo, com uma proposta de intervenção para a problemática.

Ainda segundo a Cartilha, os textos motivadores são apenas um apoio e os alunos não devem copiá-los. O documento diz: “você deve se basear nos “conhecimentos construídos ao longo de sua formação”, ou seja, sua redação precisa articular informações e ideias que extrapolem os textos motivadores”.

No Enem 2024, cada uma das redações será avaliada

por dois corretores, seguindo as orientações e regras definidas na Cartilha de Redação do Enem 2024.

 

Sabemos que:

A valorização da herança africana no Brasil enfrenta desafios históricos, culturais e sociais complexos. Essa herança, que se manifesta em áreas como a música, dança, religião, culinária e linguagem, é uma parte essencial da identidade brasileira. No entanto, ao longo dos séculos, foi marcada por preconceitos e tentativas de apagamento. Compreender e superar esses obstáculos é essencial para construir uma sociedade mais inclusiva e justa, que reconheça e valorize a contribuição africana.

 

Um dos principais desafios está na educação. A falta de conteúdos que abordem a história e a cultura africanas e afro-brasileiras nos currículos escolares é um obstáculo para a conscientização e valorização desse legado. Embora existam leis que obrigam o ensino da história africana e afro-brasileira, sua implementação ainda é limitada. Isso reflete um despreparo estrutural e a falta de recursos para promover um ensino qualificado e inclusivo. Consequentemente, muitas crianças e jovens crescem sem conhecimento adequado sobre a importância da cultura africana na formação da identidade brasileira.

 

A questão econômica também é um entrave. A população afrodescendente no Brasil enfrenta maiores índices de pobreza e menos oportunidades, o que limita o acesso a recursos para preservação e promoção da cultura africana. A ausência de políticas públicas que incentivem e financiem iniciativas culturais afro-brasileiras dificulta a expansão e o fortalecimento desse patrimônio. Muitos grupos culturais e religiosos, como terreiros de candomblé e blocos afros, dependem de recursos limitados e enfrentam preconceitos que dificultam sua sobrevivência e crescimento.

 

Há também desafios no campo da identidade. A sociedade brasileira, ao longo do tempo, construiu uma imagem distorcida da herança africana, associando-a a estereótipos negativos e, frequentemente, desvalorizando aspectos culturais e religiosos dessa herança. A desconstrução desses preconceitos é fundamental para uma valorização efetiva, que permita que as novas gerações vejam essa herança com orgulho e reconhecimento.

 

Outro desafio significativo é o racismo estrutural, que se manifesta em discriminação e exclusão social. Esse racismo impede que tradições e manifestações culturais de origem africana sejam amplamente aceitas e respeitadas. A falta de reconhecimento e de representatividade das tradições afro-brasileiras na mídia, nos espaços públicos e nas produções culturais  reforça estereótipos e mantém essas expressões culturais à margem da sociedade.

 

 

Superar esses desafios exige esforços coordenados e contínuos. A implementação de políticas públicas voltadas para a promoção da cultura afro-brasileira, o combate ao racismo estrutural e o investimento em educação inclusiva são passos essenciais para que o Brasil valorize verdadeiramente a herança africana. É um processo de resgate e celebração de uma parte vital da identidade do país, que contribui para uma sociedade mais diversa, rica e justa.

 

 

Mas é preciso levar em conta que, como  exemplo, no caso do racismo estrutural:

Os argumentos contrários à existência de racismo estrutural no Brasil partem geralmente da perspectiva de que as desigualdades e dificuldades enfrentadas por diferentes grupos raciais não são fruto de um sistema racista, mas sim de outros fatores. Aqui estão alguns desses pontos:

 

Desigualdades Econômicas e Sociais Como Prioridade: eu creio que as desigualdades socioeconômicas e educacionais são fatores primordiais que afetam a população brasileira, independentemente da raça. Segundo essa minha  visão, problemas como pobreza, falta de educação de qualidade e falta de oportunidades impactam de maneira ampla e não estão necessariamente ligados a uma estrutura racista, mas a uma estrutura econômica desigual.

 

 

A Mescla Racial no Brasil: Defendo que, por conta da alta miscigenação no Brasil, o país possui uma diversidade racial que dilui o racismo estrutural, tornando-o menos evidente ou menos influente no funcionamento das instituições.

 

 

Mudanças na Legislação e Políticas Públicas: Penso que o Brasil possui um conjunto robusto de políticas públicas e leis antirracistas (como a criminalização do racismo na Constituição de 1988 e políticas afirmativas em universidades) que visam a combater o preconceito e promover a igualdade. Defensores dessa posição acreditam que esses avanços jurídicos e políticos indicam que não existe um racismo estrutural, uma vez que há esforços institucionais para igualdade.

 

 

Mobilidade Social Independente de Raça: Penso que existem pessoas negras e pardas em posições de destaque em áreas como cultura, esporte, política e economia, o que pode provar que não há barreiras estruturais que impeçam o progresso desses grupos.

 

 

Fatores Culturais e Regionais: Creio que  as diferenças entre os grupos étnicos no Brasil podem ser explicadas por fatores regionais e culturais, e não por uma estrutura racista. Acredito que as desigualdades vistas são mais relacionadas ao desenvolvimento desigual das regiões do Brasil do que à raça dos indivíduos que lá vivem.

 

 

Comparação com Outros Países: Penso que o Brasil, ao contrário de países com histórico de segregação racial formal (como os EUA), não teve leis de segregação racial obrigatórias na maior parte de sua história.: a ausência de um apartheid formal sugere que o racismo estrutural não é uma característica central da sociedade brasileira.

 

 

Finalizando, esses pontos, para mim,  representam uma perspectiva contrária à ideia de racismo estrutural, mas encontram forte oposição de estudiosos e ativistas (que podem influenciar os corretores) que argumentam que as disparidades raciais no Brasil, mesmo que não explícitas, estão enraizadas em um sistema de desigualdades histórico e estrutural.

 

Enfim, isso tudo posto — democraticamente como deveria ser — qualquer opinião sobre o assunto será considerada válida  pelos corretores? Ou a melhor solução seria orientar os jovens vestibulandos a responderem o que os formuladores das questões querem ouvir, a fim de conseguirem uma vaga na universidade: questão de sobrevivência?

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com .br
ancartor@yahoo.com

 

COMENTÁRIO(S) SOBRE O ARTIGO ACIMA:

Ótima leitura…

Muita gente se apoia em agendas anti-racistas como bandeira e sei que vc conhece bem isso!

Alpinistas sociais no trampolim da lacração, mas não movem um dedo de forma estruturada e inteligente para mudar isso.

Temos muitos problemas à começar com falta de DEUS nas Escolas, no país laico, temos o dia da Aparecida, da Consciência Negra e até dos Mortos, mas Jesus Cristo nem pensar!!!!!

Me diga qual foi o ensinamento de Jesus que o condenaria a ficar de fora das Escolas (sistema) e ser odiado por muitos?

Ele pregou a PAZ, curou doentes, uniu as pessoas, e por isso foi morto.

O negro como vc bem disse, é tão vítima como o pobre, aquele que não tem recursos e nem oportunidades, só que em maior número! E isso tem uma razão histórica por trás!

Nós adultos também pensamos sobre o que vamos responder, falar, declarar… Ora falamos para sermos aceitos, ora para colocar pra fora o que sentimos.

Qual será a decisão deste sentimento frente a tamanha pressão de uma sociedade hipócrita e egoísta?

Bjs no seu coração!

Só DEUS meu Amigo!
O mundo tem caminhado estranho e a Palavra está se cumprindo!

PALMIERI – EX-GOLEIRO E GRANDE AMIGO

 

Bom dia, Tórtoro, sempre nos mostrando suas opiniões sensatas em relação ao sistema que hoje quer manipular nossos sentimentos.

RITA MOURÃO – MEMBRO DA ARL – ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE LETRAS

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