A ANGUSTIA DE NÃO PODER INCLUIR
No meu trabalho, atendo pais que querem trazer seus filhos para estudarem no colégio.
Eu me sentiria feliz se pudesse acolher a todos, de forma adequada.
Em cada entrevista, meu coração fica apertado.
Vejo nos olhos dos pais de crianças com transtornos sérios — principalmente transtornos do espectro autista (TEA) — a esperança de que nossa escola possa oferecer o acolhimento e o suporte que seus filhos precisam para se desenvolverem, aprenderem e socializarem.
Mas, sabemos que o tratamento do TEA é caro até para a classe média, por ser multidisciplinar e envolver vários profissionais como: Neurologistas e psiquiatras que realizariam a primeira avaliação clínica e levantariam hipóteses sobre o caso; Psicólogos clínicos ou neuropsicólogos para realizarem testes de desenvolvimento e avaliarem o comportamento da criança; Fonoaudiólogos indicados para o tratamento de cada caso específico; Terapeutas ocupacionais, para cuidarem da independência do aluno; Fisioterapeutas para ajudarem com problemas de equilíbrio, coordenação e força muscular; Psicoterapeutas que acompanhariam o caso e trabalhariam aspectos como comunicação e comportamento social.
E ainda, dependendo das necessidades de cada caso, outros profissionais poderiam integrar a equipe, como: Educadores físicos, Profissionais de Equoterapia, Musicoterapeutas, Terapeutas comportamentais, Pedagogos. O importante é que a equipe fosse parceira, mantivesse contato frequente e trabalhasse de forma coesa para melhorar a qualidade de vida da criança e da família.
No entanto, somos confrontados com uma realidade dura: as escolas em geral não têm condições adequadas, não dispõem de todos os profissionais especializados que seriam essenciais para garantir a inclusão e o desenvolvimento integral desses alunos.
Cada vez que conversamos sobre essa situação, sinto uma angústia profunda.
Sei que a sociedade está em falta com essas famílias e, principalmente, com essas crianças que possuem o direito à educação inclusiva e adaptada às suas necessidades.
Essa situação nos expõe a uma questão mais ampla e preocupante: o papel do Estado. A educação inclusiva não deveria ser um privilégio de algumas instituições, mas uma garantia universal, com suporte, recursos e profissionais devidamente capacitados e disponíveis em todas as escolas públicas.
O sistema educacional do país precisa urgentemente dessa estrutura para que o educador possa fazer seu trabalho de forma completa e digna, sem carregar o peso da angústia e da impotência que sentem ao lidar com esses casos.
Cada criança merece a oportunidade de crescer e aprender em um ambiente que acolha, de forma adequada, suas necessidades: é isso que todos nós, como sociedade, deveríamos estar preparados para oferecer.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL– Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
ancartor@yahoo.com