RETENÇÃO: FINAL DE UM LONGO E PENOSO PROCESSO
“Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar”.
Bauman
Vamos refletir, nesse final de ano letivo, sobre o valor da Educação: Fazer reflexões sobre o papel da família e a responsabilidade no processo de aprendizagem.
Recentemente, tive o caso de um pai que solicitou uma nova oportunidade de avaliação para sua filha reprovada e, além disso, ainda, pediu uma bolsa de estudos, o que levanta uma questão importante: estamos valorizando adequadamente o trabalho desenvolvido pela escola e incentivando nossos filhos a assumirem suas responsabilidades?
A retenção somente ocorre após um longo processo que implica em dezenas de avaliações pelo menos cinco oportunidades de recuperação, reuniões com coordenadores e orientador educacional, avaliação e orientação de psicóloga, oferta de plantões de dúvidas.
Ao final, um conselho de professores e equipe técnica analisa a vida escolar do aluno: só então a decisão de retê-lo é tomada.
A educação é um processo complexo e contínuo que envolve não apenas o aluno, mas também a escola, os professores e, principalmente, a família. Quando um aluno não alcança os resultados esperados ao final do ano letivo, é natural que a situação desperte emoções e questionamentos. No entanto, é essencial refletirmos sobre os limites das responsabilidades de cada parte nesse processo.
A escola é um ambiente que vai muito além da transmissão de conteúdos. É um espaço de formação integral, onde os professores se dedicam diariamente a preparar aulas, corrigir atividades, orientar os alunos e oferecer suporte para seu desenvolvimento acadêmico e pessoal. Cada avaliação aplicada, cada trabalho corrigido e cada conselho dado carrega o esforço e a experiência de profissionais que têm como objetivo o sucesso do aluno.
No entanto, o sucesso depende de um esforço conjunto.
Quando um aluno não atinge os objetivos, é necessário avaliar todo o percurso: participação em sala, entrega de atividades, frequência e, principalmente, o acompanhamento da família.
O acompanhamento da família é um fator crucial para o desempenho escolar. Pais e responsáveis devem estar atentos ao progresso dos filhos durante todo o ano letivo, comparecendo às reuniões e acatando as sugestões dos órgãos técnicos, verificando tarefas e incentivando hábitos de estudo e disciplinares.
Infelizmente, em muitos casos, essa participação só acontece quando a situação já se tornou crítica, como no momento da reprovação.
Esperar que a escola resolva todos os problemas, especialmente no último momento, demonstra uma falta de compreensão sobre a seriedade do processo educativo. Mais grave ainda é desvalorizar a reprovação como ferramenta pedagógica, que não visa punir, mas sinalizar que há lacunas no aprendizado que precisam ser preenchidas antes de avançar para etapas mais complexas.
Pedir uma nova prova no final do ano em meio a um contexto de baixo desempenho, não só desconsidera o trabalho realizado ao longo de meses, mas também transmite ao aluno a mensagem equivocada de que é possível escapar de consequências sem esforço. Essa abordagem prejudica a formação do caráter, pois minimiza a importância do compromisso, da disciplina e do mérito.
Reter um aluno não é uma decisão simples para qualquer instituição, pois implica revisitar métodos e estratégias. Porém, é um passo necessário quando a aprendizagem não foi consolidada.
Aos pais, cabe a reflexão: o que pode ser feito diferente no próximo ano? Como posso participar mais ativamente da vida escolar do meu filho?
Respeitar o processo educativo significa valorizar o esforço coletivo de todos os envolvidos e ensinar aos nossos filhos que o sucesso é fruto de trabalho e dedicação. Só assim formaremos cidadãos responsáveis e preparados para os desafios da vida.
Enfim, nesses tempos líquidos, nada deve nos surpreender: nem a falta de noção de alguns.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL – Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
ancartor@yahoo.com