O TEMPO DA AMPULHETA
“Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês? “
1 Coríntios 3:16-17
Sinto que minha vida se esvai lentamente, como a areia fina de uma ampulheta, escorrendo silenciosa de um instante ao outro.
A cada grão que cai, uma parte de mim se despede, sem que eu possa impedir, ou sequer questionar, o fluxo inevitável do tempo.
Há momentos em que tento conter essa areia fugidia, mas os dedos apenas deslizam por entre suas partículas, impotentes diante da gravidade e da mecânica imutável da existência.
Não sei se choro ou se rio dessa dança sutil entre o real e o subjetivo.
O tempo já está escrito, programado para inverter-se quando menos se espera, transferindo-me de um cone de vidro a outro, para início de um novo ciclo, levando-me para uma dimensão qualquer onde talvez o passado se misture ao futuro e o presente não passe de um eco difuso.
A história que sou vai se perdendo no tempo, diluindo-se em lembranças dispersas, algumas guardadas na memória dos que me cercam, outras esquecidas, como páginas de um livro que se desfaz ao vento.
E enquanto a areia continua sua inexorável jornada rumo ao inevitável, percebo que a vida nunca foi minha para eu possui-la, mas foi minha apenas para senti-la, enquanto a observo escorrendo por entre os dias.
Eu sou nuvem passageira, dissolvendo-me aos poucos no horizonte do tempo.
O vento me leva, e eu vou, sem resistência, porque minha essência não pertence a um só lugar.
Minha alma, um cristal bonito, reflete a luz do divino, mas também conhece a fragilidade da existência — e, um dia qualquer ao se partir, não se perderá, apenas se transformará, seguindo seu rumo para outra dimensão.
Sou castelo de areia à beira de um mar cósmico, moldado por mãos invisíveis e sendo desfeito pelas ondas do destino.
Não temo me perder, pois sei que o Senhor me acolherá no infinito.
Sou o tudo e o nada, a presença e a ausência, o instante e a eternidade.
E, mesmo sendo pó de areia na ampulheta do universo, sou templo de Deus —onde habita a luz que nunca se apaga.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL- Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
[email protected]
COMENTÁRIO(S) SOBRE O ARTIGO ACIMA:
Vou apoderar das verdades desse texto!
Definiu-me!!!!!!
MARIA INÊS PEDROBOM – Profa e amiga de longo tempo.
Lindíssimo artigo, de uma verdade absoluta, uma análise perfeita do tempo!
Não percebemos que os anos passaram tão rápidos, e assim chegamos na última fase da vida.
Que Deus nos abençoe sempre
CARMEN A. KAIRALA – Profa e amiga de longo tempo