ARTIGO: A FELICIDADE DE RECEBER NOSSOS FILHOS EM CASA

 

A FELICIDADE DE RECEBER NOSSOS FILHOS EM CASA

“Borboletas sempre voltam e o seu jardim sou eu”.

Música Borboletas – de Victor & Leo

Em um jardim onde o tempo já soprou com força, as flores que um dia desabrocharam com vigor hoje se curvam levemente, marcadas pela experiência.

Assim somos eu e minha esposa Lu: flores murchas, num jardim septuagenário, onde as cores já foram mais vivas, onde o néctar dos dias era mais doce e abundante. Ainda assim, há uma beleza única que floresce em nosso lar sempre que nossos filhos voltam: em geral nas tardes de quartas-feiras.

A visita dos filhos, Giovana e Sebastião, é como um vento suave de primavera, que nos renova e aquece o coração. Eles chegam com a energia que um dia foi nossa, com o riso fácil, os passos firmes e as ideias frescas. E, ao atravessarem a porta de casa, algo mágico acontece: o tempo parece fazer uma pausa, e aquele velho jardim ganha nova vida.

Antes, fomos nós que cuidamos deles — noites mal dormidas, mãos estendidas, conselhos insistentes. Hoje, é neles que encontramos o cuidado. Um olhar atento, uma ajuda na internet, uma preocupação disfarçada em pergunta despretensiosa. É uma troca silenciosa, mas cheia de amor. Eles nos devolvem, com delicadeza, tudo o que um dia lhes demos.

Não temos mais o néctar dos velhos tempos, mas temos algo que o tempo não leva: a sabedoria que vem da caminhada. E essa troca entre a juventude deles e a nossa experiência forma um ciclo belo e completo. Aprendemos com eles sobre o presente — as novas tecnologias, os novos modos de ver o mundo. E eles aprendem conosco sobre a paciência, o valor do tempo e a força da resiliência.

Cada visita é um presente.

Cada abraço, é um adubo que fortalece nossas raízes. Cada conversa, uma pétala que se reabre. Receber os filhos em casa é celebrar o amor que sobrevive ao tempo. É lembrar que o jardim da vida continua florindo, mesmo quando algumas flores já não têm o brilho de antes.

E assim seguimos, Lu, meu amor, e eu, flores maduras, mas ainda cheias de vida, num jardim que se renova toda vez que nossos filhos voltam para casa.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da ARL- Academia Ribeirãopretana de Letras
www.tortoro.com.br
[email protected]

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