MEDICINA SURREALISTA

“Você sabia que a medicina no Brasil está entre as mais eficientes do mundo? Mas isso só é válido para políticos brasileiros e estrangeiros convidados”.

Fabio Ibrahim El Khoury

Segundo a medicina surrealista — modalidade que acabo de criar depois de um absurdo que acabei de ter o desprazer de sentir na pele — a profissão deve libertar-se das exigências da lógica e da razão e ir além da consciência cotidiana, procurando expressar o mundo louco do inconsciente e dos sonhos, ou melhor, dos pesadelos.
Numa consulta que fiz recentemente a um cirurgião plástico, indicado pelo meu plano de saúde,  para agendar uma cirurgia plástica reparadora, senti o quanto estamos reféns da incompetência/desinformação de alguns de nossos novos médicos.
As pequenas cirurgias que eu preciso sejam realizadas tratam da extração de alguns nódulos de Lisch,  um crescimento anormal de tecido nervoso mole e carnudo denominados neurofibromas, característicos de uma doença chamada neurofibromatose ou Doença de Von Recklinghausen.
Diante do doutor, após expor o motivo de minha visita, ouvi dele a pergunta:
O que é neurofibromatose ?
E eu, professor de Matemática, Orientador Educacional, me vi diante de uma situação no mínimo surrealista: ensinar ao médico o que era a doença em pauta, ou seja, o Pai Nosso ao vigário.
Era como se, ao procurar um professor de Matemática, para tirar dúvidas sobre a matéria, um aluno ouvisse a pergunta: mas o que são as quatro operações ?
Da mesma forma que esse aluno duvidaria imediatamente da capacidade do professor, eu também me senti num vácuo: como poderia aquele profissional efetuar uma cirurgia sem conhecimento da causa dos meus nódulos ?
Esse fato me fez lembrar de uma mãe de aluno que me procurou no colégio para conversarmos sobre seu filho. Com olhos vermelhos e inchados, ela me garantiu: fique tranqüilo, não estou com conjuntivite.
E contou-me que quase perdeu a visão por estar sendo tratada sua  “conjuntivite”, por um médico do seu plano da saúde, mas tendo, na verdade, uveite, detectada no HC logo na primeira consulta.
Todos sabemos que estabelecer o diagnóstico diferencial entre conjuntivite e uveite é de extrema importância, uma vez que as uveítes, quando não tratadas, podem comprometer a visão definitivamente.
Se nessas precárias condições se encontram os atendimentos médicos de alguns dos profissionais dos regiamente pagos  planos de saúde, como confiar nossas vidas a médicos da rede municipal ?
Que venham os médicos cubanos: uma troca, quem sabe, trazendo em seu bojo menos absurdos:  da medicina surrealista para medicina revolucionária.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
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