CORÍNTIOS E A BPM ACADEMIA

Depois dos sessenta anos, mais por força do destino do que por necessidade, entrei pela primeira vez numa academia, não de letras — já que fui membro efetivo de duas delas: ARL e ALARP  —, mas de musculação: a BPM Academia, numa esquina tranqüila da Capitão Adelmio Norberto da Silva,  pertinho do Ribeirão Shopping.
Minha primeira reação foi a de sair dali o mais rápido possível: pareceu-me que aquele espaço nada tinha a ver comigo.
Ao perceber a agitação geral de corpos, braços e pernas por todos os lados, misturados a estruturas metálicas de refinados contornos  — que mais pareciam, a primeira vista, a oficina do SENAI ( onde trabalhei por mais de dez anos) mas de tornos e frezas de corpos,— tive a sensação de ver concretizado o refrão da frenética música Massacration, do Metal Is The Law : “Ai. Ai ai ai. Ai ai ai ai ai ai ai. Em cima, embaixo, puxa e vai…”
Eu estava entrando num templo de culto ao corpo,  consciente de que ali também seria um espaço onde eu poderia glorificar a Deus no meu corpo tendo em vista que,  em Coríntios 6:19-20,  encontramos : “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.”
Mas preciso confessar que a visão de uma academia bombando é uma tentação para as  carnes, fracas ou não : todo mundo é, ou fica bonito, numa academia.
As conversas, nos espaços entre um exercício e outro, são sempre as mesmas :supino, braços, pernas, ombros e peitos estufados, veias saltando, suor escorrendo por corpos sarados, Glutamina, Albumina, Creatina, carboidratos, proteínas, barras, paralelas, levantamentos, abaixamentos, tríceps, bíceps, alongamentos, abdominais, flexor, extensor  : e eu, nos meus sessenta anos, só fico malhando e observando o ambiente, usufruindo da esteira, bicicleta ou elipticon — não tenho pretensões de ser atleta.
Corpos em roupas collant  —  daqueles que serviram de musa para a música Furdúncio de Roberto Carlos  — se compõem com as kraft balls; no solo, pernas e braços confundem-se numa coreografia de Pilates; e ao som da Zumba exercícios aeróbicos dão graça ao ambiente saudável; no spinning é só fechar os olhos e  percorrer distâncias imaginárias:  sempre sob olhares atentos de professores especializados.
Na barra de linque, corpos em graciosas posturas de flexibilidades variadas, apresentam-se como num espetáculo circense, sem platéia,  composto de contorções e movimentos,  os mais criativos e imagináveis.
O encolher e esticar, ou o abrir e fechar de pernas femininas, sob pressão de pesos, e no ritmo do som ambiente, são de Afrodites — deusas do amor e da beleza — para os olhares dos Apolos — deuses da beleza, perfeição, harmonia — que desfilam por entre os amplos e iluminados espaços da academia transformada em Olimpo.
Hoje a BPM é para mim como a mãe-terra é para Anteu: uma fonte de novo vigor, terra que me revitaliza após cada dia de trabalho e será, sempre, um momento de encontro com o Deus que habita meu coração.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

 

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