NOS BRAÇOS DE IEMANJÁ

“ Dá-me segurança, constância e prudência, permite um banho de mar ao luar, permite na areia da praia eu deitar…”

Canto para Iemanjá

O espírito de Iemanjá, em  infinitos tons de azul, pairava sobre o mar, deixando transparecer as rendas de suas vestes em forma  de ondas reluzentes à luz do sol. E seus cabelos davam o tom escuro das nuvens que cobriam a Serra do Mar.
Em seu regaço,  Janaína — Adolê, Odoyá minha mãe! —  nos permitia, a mim e à minha família,  absorver o calor das areias da Praia Grande.
Aos pés da Barraca da Linda, onde Vila Mirim e Cidade Ocian se abraçam, a cada manhã tinha início um Bolero de Ravel em que os instrumentos eram as imagens que iam, pouco a pouco, compondo um mosaico de sons e cores: as cangas, os brincos, os óculos coloridos, as pipas, o milho verde, o queijo coalho, o sorvete de açaí, o camarão no espeto, os helicópteros, os policiais vinte e quatro horas, tatuagens de henna, arte em arame,música ao vivo, o radio de pilha, as gargalhas, o choro de crianças, como se a Feirinha da Avenida esticasse seus tentáculos por sobre todo o litoral paulista.
Foram seis dias de envolvimento com a força da força, do sol, do mar, do vento, da areia, da Mata Atlântica e suas fontes de águas límpidas, e da Pedra da Lua,  ao anoitecer.
Nos intervalos para refeições, um banquete de Babette com direito a bobó de camarão, regado a caipirinha e cerveja bem gelada.
No final de cada dia de pleno lazer, no aconchego do apartamento cheirando a sândalo, depois da piscina e da ducha relaxante, eu via TV e ouvia ao longe Esse cara Sou Eu vindo do salão de festas.
Antes de dormir, nas páginas do livro  O Segredo da Galileia, de Evan Drake Howard, dava um passeio por Jerusalém dominada pelos romanos, combatidos pelos zelotes, e pela palestina, nos dias atuais, entre terroristas e movimentos pela paz.
No sétimo dia, desejávamos continuar nesse paraíso da Rainha das Águas, sem relógio, horas e horários, sem lenço nem documento, sem compromissos nem agendas, mas o Marcopolo da Rápido D’Oeste aquecia seus motores, nos portões do Centro de Lazer dos Comerciários do Estado de São Paulo, para nos levar de volta com destino à realidade: Ribeirão Preto, vinte e três de janeiro de dois mil e treze.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO
ancartor@yahoo.com
www.tortoro.com.br

 

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