MAS…

Segundo a Supervisora de Ensino , Izabel  Sadalla Crispino, “uma escola bem organizada, que tem bem definidos os seus propósitos, os seus critérios, não tem por que temer a participação comunitária, temer a perda da autonomia de que, hoje, é portadora. O projeto pedagógico e seu desenrolar são de absoluta competência da escola, não devendo haver, nessa linha, interferência externa. Poderão surgir sugestões de mudança, cuja decisão ficará a cargo da escola. Ela é a salvaguarda do currículo, da metodologia aplicada. Cada coisa tem seu lugar, cada função, seu representante.  Aos pais compete inteirar-se do processo ensino-aprendizagem e acompanhá-lo devidamente”.
Infelizmente a palavra mas, usada como conjunção adversativa ( que classifica o que foi dito como irrelevante), é uma das preferidas por pais de alunos para justificarem as atitudes de seus filhos, digamos, não condizentes com a boa conduta no cotidiano escolar.
Sempre existe um mas.
Meu filho errou, mas. Meu filho foi mal educado, mas. Meu filho não fez a tarefa, mas. Meu filho não veio à aula ,mas. Meu filho ofendeu o colega, mas. Meu filho perdeu dez dias de aulas viajando, mas. Meu filho não obedece aos professores, mas. Meu filho é agressivo e não tenho controle sobre ele, mas. Meu filho não fez o trabalho, mas.
E segue-se ao mas uma série de críticas ao professor, à escola, aos colegas do filho e ao sistema.
É a humana tendência  de exigirmos nossos direitos antes de cumprirmos nossos deveres: a culpa é sempre do outro.
E as coisas se complicam quando o pai é adepto da Lei do Caminhão de Lixo: muitas pessoas são como caminhões de lixo. Andam por aí carregadas de lixo, cheias de frustrações, cheias de raiva, traumas e de desapontamento. À medida que suas pilhas de lixo crescem, elas precisam de um lugar para descarregar, e às vezes descarregam sobre nós.
É preciso, mas muito difícil e complicado, não tomarmos isso no âmbito pessoal.
Como em nossa formação profissional de educador não existe a psicanálise ou a psiquiatria para ajudar nas relações com esses caminhões de lixo, o diálogo fica quase que impossível, pois as colocações feitas fazem  lembrar a letra de Zeca Baleiro, da música Lenha, divinamente interpretada pela cantora Simone, que diz : Eu não sei dizer o que quer dizer, o que vou dizer…
Não existe nexo nas defesas de ideias de pais porque chegam para um monólogo, ao invés de um diálogo, e confundem o não concordar do educador com o mesmo não entender o que estão dizendo: querem trazer o problema e a respectiva solução de acordo com o seu particular ponto de vista, sem considerar que cada situação tem sempre dois, três ou quatro outros pontos de vista que podem ser completamente diferentes do seu.
No Brasil, todos são técnicos de futebol e, pelo visto, educadores, mas é preciso confiar no corpo docente e administrativo do colégio de seu filho: são pessoas preparadas para o trato com as múltiplas situações criadas no ambiente escolar. Querer dar palpites sobre educação, no trabalho dos  educadores, é o mesmo que querer escolher o remédio que o médico deverá administrar ao paciente após a consulta, ou sugerir ao engenheiro qual o melhor cálculo para segurança da obra.
Cada macaco no seu galho ou cada um no seu quadrado.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

MACACO

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