“Fica tranqüilo pois estou contigo”
Livro de Isaías
Final de ano, sentindo que as energias físicas e espirituais chegaram a seus limites depois de uma ano inteiro cuidando da vida escolar de centenas de jovens, resolvi buscar uma leitura revigorante, dar uma pausa às turbulências diárias, lendo Ágape, livro do Padre Marcelo Rossi.
Propondo interpretações ao Evangelho de São João, Ágape aborda questões como amor, tolerância, humildade e perdão. E, como feixe de cada um de seus capítulos, o livro é iluminado por inspiradoras orações que retomam cada um desses temas. Uma dádiva que se amplia no recolhimento da prece.
No prefácio, Gabriel Chalita salienta os aspectos que , no livro, nos servem de referenciais: “ O autor nos traz testemunhos de vida que iluminaram e iluminam o mundo com o Amor ágape: Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce e Zilda Arns. Santos que amaram incondicionalmente como São Francisco, Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz, São João Maria Vianey, Santa Terezinha do Menino Jesus, São Benedito e tantos outros. Amores concretos. Oração e ação. Que bela a oração de São Tomás de Aquino nos ensinando a viver a ética cotidiana”.
E foi na página 34 que encontrei uma resposta a um questionamento: por que será que, em todo final de ano, a escola aprova 96% de seus alunos e não recebe quase nenhum agradecimento desses pais e alunos mas, em contrapartida, as críticas dos restantes 4% são contundentes, e responsabilizam unicamente professores e coordenadores pelo mal resultado obtido por seus filhos e/ou netos ?
“ Gosto daquela história das duas famílias que moravam uma em frente à outra. Todos os dias, o marido de uma das casas,ao voltar do trabalho, encontrava a esposa reparando nas roupas sujas penduradas na área da casa vizinha. Ficava indignada. Não entendia por que não as lavava adequadamente primeiro, para só depois colocá-las no varal.E dizia isso com impaciência e com a certeza de que a vizinha era descuidada e suja. Depois de algum tempo, cansado das reclamações da mulher, o marido deu uma sugestão simples e óbvia. Disse a ela que limpasse o vidro da janela da sala deles, que estava imundo, e , então, veria que não eram as roupas da vizinha que estavam sujas. História simples com um ensinamento de grande significado. O descuido com a limpeza não era da vizinha. É fácil jogar a culpa no outro. O problema é sempre do outro. Ser Filho da Luz é iluminar a vida para que os meus problemas sejam resolvidos. Para isso é preciso assumir que eles existem. Na história, a mulher não imaginava que era a sua vidraça que estava suja. Essa é uma questão importante. A dificuldade em ver o meu problema faz com que eu não consiga solucioná-lo. O primeiro passo para levantar é ter a percepção da queda”.
É uma pena que pais e responsáveis não consigam — por falta de tempo, por força das obrigações do cotidiano — encontrar um tempo para limparem suas próprias vidraças: uma conversa diária com os filhos, a demonstração de um mínimo de interesse pela vida escolar deles, um tempo para conversar com o Orientador Escolar do colégio, um final de semana para olhar apostilas e cadernos de tarefas, e algumas outras formas de amor, que poderiam evitar retenções e dissabores no final de uma não letivo.
Enquanto isso, nós , educadores, continuaremos no trabalho de jogar a luz sobre os acontecimentos do dia a dia escolar. A luz revela. Se há alguma sujeira na casa e as luzes estão apagadas, as pessoas não conseguem perceber a ausência do cuidado, da limpeza. Quando a luz se acende, o que era sujo começa a incomodar, infelizmente.
Mas temos que estar tranquilos porque acreditamos que Ele está conosco.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO