ENTRE CLARAS E LEOS: MENTES PERIGOSAS

“A aprendizagem altruísta é o único caminho possível para combatermos a cultura psicopática pautada na insensibilidade interpessoal e na ausência da solidariedade coletiva

 

Ana Beatriz Barbosa Silva

 

No livro Mentes Perigosas – o psicopata mora ao lado, de Ana Beatriz Barbosa Silva — médica graduada pela UERJ, com pós-graduação em psiquiatria pela UFR —Editora Fontanar, com mais de 400 mil exemplares vendidos, na página 192 encontramos o seguinte:”O desrespeito, a frieza, a luxuria e a perversidade dos psicopatas estão ganhando espaço nas telinhas e nas telonas, arrebatando espectadores, críticos especializados e atores que buscam fama e reconhecimento profissional ao interpretarem personagens de “psiquismo tão complexo”. Se não tomarmos muito cuidado, acabaremos adotando a conduta psicopática como um estilo de vida eficiente para se alcançar a autossatisfação ou então como um comportamento adaptativo de sobrevivência”.
Ana Beatriz nos ensina como reconhecer e nos proteger de pessoas frias e perversas, sem sentimento de culpa, que estão perto de nós : Claras e Leos, psicopatas de todas as idades.
Para quem não é noveleiro, Léo ( Gabriel Braga Nunes) é o manipulador e sedutor personagem de Insensato Coração, escrita por Gilberto Braga e Ricardo Linhares, e Clara ( Mariana Ximenes) é a cara de anjo e alma de demônio de Passione, escrita por Sílvio de Abreu: exemplos de psicopatas.
Portanto, achar que psicopata tem cara de mau, é truculento, de aparência descuidada, pinta de assassino e desvios comportamentais óbvios que poderíamos reconhecer sem pestanejar, está equivocado. Os psicopatas enganam e representam muitíssimo bem. Esses “predadores sociais” com aparência humana estão por aí, misturados conosco, incógnitos, infiltrados em todos os setores sociais. São homens, mulheres, de qualquer raça, credo ou nível social. Trabalham, estudam, fazem carreira, se casam, têm filhos, mas definitivamente não são como a maioria da população: aquela a que chamaríamos de “pessoas do bem”. Eles podem arruinar empresas e famílias, provocar intrigas, destruir sonhos, mas não matam. E, exatamente por isso, permanecem por muito tempo ou até uma vida inteira sem serem descobertos ou diagnosticados. Por serem charmosos, eloquentes, inteligentes e sedutores, costumam não levantar a menor suspeita de quem realmente são. Visam apenas ao benefício próprio, almejam o poder e o status, engordam ilicitamente suas contas bancárias, são mentirosos contumazes, parasitas, chefes tiranos, pedófilos, líderes natos da maldade. Os psicopatas, em sua grande maioria, não são assassinos e vivem como se fossem pessoas comuns.
Trabalho com jovens — sou Orientador Educacional — e, por vezes, detectamos em alguns, transtorno da conduta: mentiras frequentes, crueldade com animais, conduta desafiadora às figuras de autoridades, impulsividade e irresponsabilidade, baixíssima tolerância à frustração, tendência a culpar os outros por erros cometidos, insensibilidade ou frieza emocional,ausência de remorso ou culpa, falta de empatia, falta de constrangimento ou vergonha quando surpreendidos mentindo, dificuldades em manter amizades, faltas constantes na escola, vandalismo, participação em fraudes (falsificação de documentos) , sexualidade exacerbada, introdução precoce no mundo das drogas ou do álcool.
Portanto, segundo a autora, é de grande importância que os pais tenham conhecimento pleno sobre o assunto ( atitudes psicopáticas) e que passem a reconhecer a disfunção em seus filhos, dispensando ao problema a atenção que ele merece.
Quando em grau leve e detectada ainda precocemente, a psicopatia pode, em alguns casos, ser modulada por meio de uma educação mais rigorosa. Um ambiente familiar mais estruturado e com vigilância constante dos filhos “problemáticos” certamente não evita a psicopatia, mas pode inibir uma manifestação mais grave. E, então, fazer toda a diferença.
Como Orientador Educacional, sugiro aos pais que estabeleçam contatos com todas as pessoas do convívio de seus filhos ( professores, amigos, pais de amigos, orientador educacional): a maioria dos pais não sabe como seus filhos se comportam longe de seus olhos; e não permitam que seus filhos controlem a situação, estabelecendo regras e limites claros, pois crianças com perfis psicopáticos apresentam um talento extraordinário para distorcer as regras estabelecidas e virar o jogo a seu favor: não cedam. Se vocês fraquejarem, certamente seus filhos ocuparão os espaços deixados pela sua desistência e serão futuros Leos e Claras, mas reais.

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

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