Como vocês devem saber, a escolha de Sofia é a história de uma mãe judia no campo de concentração nazista de Auschwitz, que é forçada por um soldado alemão a escolher entre o filho e a filha – qual será executado e qual será poupado. Se ela se recusasse a escolher, os dois seriam mortos. Ela poupa o menino, que é mais forte e tem mais chances de sobreviver, porém nunca mais tem notícias dele.
A questão é tão terrível que o título se converteu em sinônimo de decisão quase impossível de ser tomada.
Não é o caso da escolha de uma foto que deverá ou não fazer parte de uma bienal ou salão nacional de arte fotográfica.
A escolha de uma foto, nesse caso, é simples: bateu escolheu, não bateu, exclui-se do salão ou bienal.
Foto é arte e, como tal, é questão de gosto, de falta ou excesso de conhecimento técnico, de muita ou pouca vivência da realidade humana, de muita ou pouca idade, de experiências vividas ou não.
Tanto é assim que, num mesmo corpo de jurados — todos competentes profissionais de Ribeirão Preto, valorizando assim pratas da casa — para uma determinada foto, um deu nota dez e outro, para a mesma foto, deu nota um: e não existe o certo e o errado.
E, sendo assim, para cada corpo de jurados, o resultado de um mesmo salão ou bienal de fotografia, quase com certeza, teria resultados diferentes.
Mas algo é muito importante: a lisura na escolha das fotos a serem premiadas.
E isso acaba de ocorrer no processo de escolha das melhores fotos, vindas de 30 fotoclubes, de 12 Estados do Brasil, e que poderão ser vistas na abertura do III Salão Nacional de Arte Fotográfica de Ribeirão Preto.
Cada um dos cinco jurados, de posse de um pequeno aparelho com dois botões, um vermelho e outro verde, escolheu ou eliminou foto a foto, mais de mil e duzentas delas, sem que o jurado ao seu lado soubesse de seu voto.
A seguir, numa mesa colocada fora do alcance dos olhares dos jurados, um dispositivo de apuração acendia luzes vermelhas, ou verdes, permitindo aos fiscais separarem, em uma bandeja, as fotos com um, dois , três, quatro ou cinco votos verdes.
Terminada essa fase da apuração, em que somente as fotos com três ou mais votos verdes foram selecionadas, passou-se à fase de aplicação de notas, de zero a dez, a cada uma dessas escolhidas, em planilha individual para cada jurado.
Depois todas as avaliações foram lançadas em planilha excel, tabuladas, e eis que surgem as vencedoras com nome do fotógrafo, seu fotoclube, e seu total de pontos , ou seja, soma das notas dos cinco jurados.
É assim que, no dia abertura do salão , quase duas dezenas de obras de arte serão vistas por milhares de pessoas, cada uma concordando ou não com as escolhas dos jurados, mas todas devendo saber que a escolha foi imparcial, limpa, honesta.
Para que não houvesse dúvidas — pois, como todos sabem, à mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta — os fotógrafos do Grupo Amigos da Fotografia, o qual organizou o evento, não puderam concorrer, mas mostrarão seus trabalhos em exposição paralela, nos mesmos dias e local do III Salão Nacional de Arte Fotografica de Ribeirão Preto.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO