Toda novela tem uma escola, e Cama de Gato tem a sua, onde estuda Tarcísio (Heslander Vieira) e que , diariamente, traz situações do cotidiano escolar.
Paulo Coelho diz , em um de seus artigos : “ Um guerreiro da luz não adia suas decisões.
Ele reflete bastante antes de agir. Considera seu treinamento, sua responsabilidade e seu dever para com as pessoas que ama. Procura manter a serenidade e analisa cada passo como se fosse o mais importante.
Entretanto, no momento em que toma uma decisão, o guerreiro segue adiante: não tem mais dúvidas sobre o que escolheu, nem muda de percurso se as circunstâncias forem diferentes do que imaginava.
Tudo que faz é adaptar-se ao caminho, às vezes agindo com a solidez de uma rocha, às vezes deixando-se levar como as águas de um rio que sabe aonde vai.
Se sua decisão foi correta, vencerá o combate — mesmo que dure mais do que o previsto. Se sua decisão foi errada, ele será derrotado e terá que recomeçar — com mais sabedoria. Mas um guerreiro da luz, quando começa, vai até o fim”.
Num final de ano , nós , educadores, constatamos o quanto temos de guerreiros da luz no decorrer do ano letivo.
É muita responsabilidade atirada em nossas mãos pelos pais e a sociedade. Tudo é dever da escola: ensinar o conteúdo programático e normas de conduta, ditar limites, cobrar tarefas e trabalhos escolares, fazer cumprir horários, lembrar compromissos, e muito mais.
E tudo isso tendo que manter a serenidade. Qualquer gesto mais abrupto, qualquer palavra mais áspera ou mesmo uma aparente indiferença levada pela quantidade de atividades a serem desenvolvidas em curto espaço de tempo são suficientes para as mais contundentes críticas e reclamações eivadas de insinuações tão maldosas quanto inconsistentes.
É impressionante a quantidade de momentos vividos anualmente, em que um educador tem que manter o percurso por ele estabelecido, fincando pé nos valores morais e éticos em que acredita, diante de pressões exercidas por aqueles pais que veem nos professores de seus filhos simples babás de luxo ou bedéis diplomados.
Fica difícil o estar entre a rocha e o rio: rocha, para manter a disciplina , o respeito dos alunos , e, ao mesmo tempo, rio, para se deixar levar pelos laços de carinho, amizade e até de amor que se constroem em tantos momentos de íntima relação mestre e discípulo.
Como é descomunal a íntima cobrança de não poder errar, e ter que , ao decidir-se, ir até o fim , mesmo que isso , muitas vezes, signifique perder o emprego, perder alunos, sofrer agressões de pais, ouvir ameaças veladas, e sentir o desprezo injusto de jovens insatisfeitos.
Já perdi emprego em colégios porque denunciei abusos de diretores contra alunos e professores, já perdi emprego porque resolvi combater bons combates, já perdi meu emprego para que outros colegas continuassem com os seus, já perdi emprego porque colegas não conseguiam acompanhar meu ritmo de trabalho, mas nunca perdi um emprego sequer por irresponsabilidade, falha de conduta, desrespeito ao meus superiores, alunos e colegas.
Sempre paguei um alto preço por saber que estou procurando, por buscar ser guerreiro da luz e não adiar minhas decisões e, assim, chega sempre mais um final de ano em que os que foram aprovados o foram por esforço próprio, e os reprovados o foram pela escola e pelos erros dos educadores.
Os agradecimentos são cada vez mais escassos e, na maioria das vezes, nem chegam, mas as críticas e acusações são suficientes para, lançadas ao fogo, manterem acessa a chama do servir, sempre.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO ACIMA:
Tórtoro,
admiro sua clareza e destemor, tratando de temas considerados tabus.
Na Educação, nos dias que correm, há uma total inversão de valores: professores mal pagos, sofrendo represálias de pais, alunos e mercadores da educação.
Próprio de um país que teima em ficar no obscurantismo intelectual.
Mas, enquanto tivermos guerreiros da luz, como você, sempre haverá esperança.
Corauci Sobrinho
Você expõe com precisão cirúrgica as mazelas de quem trabalha com educação no brasil.
Parabéns pelo excelente artigo!
Marcos Benfica
Prezado Tórtoro:
Parabéns pelo excelente artigo!
Identifiquei-me com ele em todos os aspectos, em minha atividade de educador da natureza.
Sim, porque um ambientalista também se defronta com o descrédito de todos, acreditando que somos contra o progresso, ou alarmistas, ou ainda apenas sonhadores.
Em nossa atividade também buscamos as crianças, tentando criar a consciência na mais tenra idade, para que quando adultos não agridam a natureza que lhes dá sustento e beleza.
Sua profissão é a das mais dignas e edificantes, pois dá a formação daqueles que se tornarão a sociedade ativa depois de nossa passagem! sucesso e continue nos brindando com suas idéias e ideais.
Grande abraço do amigo
João Carlos Figueiredo
http://meuvelhochico.blogspot.com