PRESÉPIO VIVO

“Fotografar é colocar na mesma mira a cabeça, o olho e o coração”

 

Henri Cartier-Bresson
As festas de final de ano já terminaram, mas as imagens do Presépio Vivo de Ribeirão Preto persistem em minha mente.
É quase indescritível a sensação de ficar perto dos componentes desse presépio, evento com quase trinta anos de tradição, produzido e dirigido por Osmani Antonio de Oliveira, e que reúne anualmente milhares de pessoas na esplanada do Theatro Pedro II.
São mais de quarenta atores amadores no palco, e mais de oitenta vozes de diversos corais, relembrando as cenas que marcam mundialmente o Natal.
Em 2008, sob a regência do Maestro Sérgio Alberto de Oliveira, essa apresentação que compõe o calendário oficial de comemorações natalinas, permitiu-me capturar centenas de imagens, sentindo cheiro de feno, ouvindo o balir das ovelhas, sob as luzes celestiais de anjos, que do balcão do Theatro Pedro II, davam Glórias a Deus.
Na revista Carta na Escola, li um artigo que identifica o fotógrafo como a figura do caçador, por ser uma das principais capacidades que caracterizam o fotógrafo, aquela que o faz lançar ao mundo um olhar discriminatório, buscando flagrar e capturar um instante que, no decorrer da vida, esteja carregado de algum sentido.
E lá estava eu, num entardecer que antecedia o Natal, realizando uma coreografia particular, envolvida por uma certa solenidade de gestos que o momento exigia: paradas, hesitações, movimentos de escolha, tomadas de decisão, escolhas de enquadramentos, de pontos de vista, de proximidade e distância, de ângulos, de controles de branco, de abertura, de luz, de velocidade, enfim, todo um ritual que constitui o âmago do ato fotográfico.
E tudo isso porque, depois do clique, depois do gatilho, do corte ao vivo de uma fatia única e singular de espaço e tempo, não há mais como mudar o instante que se congelou para sempre: e, diante da beleza das imagens, nesse caso, nem houve vontade de mudar.
As imagens capturadas, continuam por longo tempo em nossas retinas, como espelhos retendo imagens: Boris Kossoy, em seu livro Os Tempos da Fotografia – o Efêmero e o Perpétuo, afirma que as fotos funcionam como espelhos nos quais as memórias são guardadas.
Para muitos pensadores , tirar fotos é escrever e preservar a história que é feita das grandezas de coisas miúdas, observadas fora do circuito da política e dos donos do poder: é o indivíduo comum tendo possibilidade de escrever a história sob seu ponto de vista.
E como Lê Goff afirmou que todo documento é monumento, então as imagens, que capturamos no presépio montado no centro da cidade, revelarão, no futuro, elementos que poucas crônicas ou narrativas poderão oferecer. Assim , como imagem/monumento , essas fotografias revelarão a imagem de si que o passado quis ver perenizada, sendo assim, um ícone, um símbolo, uma representação, objeto da semiótica.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

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