“Roube ainda hoje! Amanhã pode ser ilegal.”
Millor Fernandes
Jogo classificatório para a Copa do Mundo de 2010.
A França tinha a confortável vantagem de jogar por um empate, em casa, para garantir sua décima terceira participação em Copas do Mundo.
O esperado gol de empate chegou apenas aos treze minutos do primeiro tempo da prorrogação, mas foi anulado pelo árbitro da partida.
Gallas fez o gol após receber passe de Thierry Henry , que utilizou a mão para ajeitar a bola, antes de cruzar para a finalização do tento que levaria os Les Bleus à Copa de 2010, para alegria dos torcedores presentes ao estádio, entre eles o Presidente Nicolas Sarkozy e os ex-jogadores Fabien Barthez e Zinedine Zidane.
A bola ainda estava nas redes do goleiro irlandês , Given, quando os milhares de franceses boquiabertos perceberam que Henry se dirigia ao árbitro da partida, o sueco Martin Hanson, para dizer : “ Eu serei honesto. A bola tocou em minha mão”.
Tumulto e espanto geral.
Os restantes dezessete minutos do primeiro tempo, e os demais trinta minutos do segundo tempo da prorrogação transcorreram envolvidos por uma atmosfera de incredulidade, de estrondoso silêncio que fazia lembrar o Maracanã na final da Copa de cinquenta, após o gol uruguaio contra a seleção brasileira de futebol.
Apito final.
A mídia do mundo todo corre para entrevistar o primeiro jogador de futebol que, mesmo sabendo estar tirando da próxima Copa o seu país, teve a ousadia de dizer a verdade.
Disse a verdade quando poderia ter-se utilizado de milhares de argumentos para justificar sua atitude: o erro foi do juiz que estava mal posicionado , ou Maradona também marcou com a mão, ou isso é coisa do futebol, ou, também, já fomos prejudicados por falhas da arbitragem , ou acontece com todo mundo, ou, ou…
Disse a verdade, mesmo sabendo que poderia ser crucificado: afinal de contas houve Alguém que era o Caminho, a Verdade e a Vida, e foi cruelmente martirizado.
Enquanto o telão repetia ene vezes o não-gol histórico, Henry saiu de cabeça erguida, e o estádio o aplaudia de pé, após o choque inicial — que normalmente sucede a qualquer ato ou momento fantástico — e que acabara de abalar a multidão que cobria todas as dependências do Stade de France.
O Presidente Nicolas Sarkozy, escoltado por seguranças, fez questão de receber o novo herói nos vestiários: naquele momento, a França lembrava ao mundo o ideal olímpico representado pela velha máxima “O importante não é vencer, é participar”, atribuída ao Barão de Coubertin, mas dita pela primeira vez em 1908, pelo Bispo da Pensilvânia, num sermão aos atletas da Olimpíada realizada em Londres.
Nem tudo estaria perdido se fosse a história acima uma verdade: mas não é.
A França está na Copa, a Irlanda está fora, e Thierry Henry é só mais um caso que procura nos convencer de que a Lei de Gerson — um jogador de futebol — está mais viva do que nunca: e não é só nos campos de futebol e no Brasil.
Para que alguma coisa realmente mude, só Deus metendo a mão.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO