“Uma frase (conversa) gentil acompanhada de um revólver dá mais resultados que apenas uma frase (conversa) gentil”
Al Capone
MacGyver foi uma série de aventura da TV norte-americana sobre um ex-agente secreto das forças especiais.
Angus “Mac” MacGyver tinha como recurso principal a aplicação prática do conhecimento científico e do uso de itens comuns, junto com seu canivete suíço, fita adesiva e a coincidência de estar, quase sempre, trancado em um quarto com materiais úteis à suas necessidades imediatas. Isso permitia a ele criar uma variedade de soluções improvisadas para escapar da captura, do desastre ou para , geralmente, derrotar seus inimigos.
Hoje os professores nas salas de aula são MacGyvers, também com poucos recursos, buscando aplicar na prática conhecimentos científicos, trancados em salas de aula , tentando soluções para vencer dezenas de alunos que, geralmente, o veem como inimigo.
Posto o quadro — um manancial inesgotável de desencanto, indisciplina e desrespeito — uma cartilha, Manual de Conduta Escolar, que prevê regras de disciplina e punição nas escolas da rede estadual consegue dividir especialistas ligados à rede estadual de educação : Diário de São Paulo de 11/10/09.
De um lado, os MacGyvers, diretores e professores, que estão na linha de frente, nas escolas, afirmam que a iniciativa é positiva e que pode ter resultados em pouco tempo. De outro, os supervisores de ensino, fora das salas de aula, avaliam que a repressão não é o melhor caminho — mas também não fazem nada além de se preocuparem com o cumprimento rigoroso da burocracia das cadernetas escolares, grades curriculares, calendários escolares: cuidam mais da remela que dos olhos.
Como afirma Luiz Gonzaga, presidente da Udemo : “ É preciso separar o que é um mero ato de indisciplina na escola do que é violência contra professores e contra colegas “ .
Em março desse ano, em Moema , zona sul de São Paulo, num colégio de classe média em que os alunos se sentem com privilégios pelo fato dos pais pagarem altas mensalidades, um professor de História foi desacatado em sala por três alunos. O Mestre deu queixa à Diretora. Esta apoiou os desordeiros. O Professor pediu demissão e foi para casa, onde teve crise nervosa e passa agora por síndrome do pânico. A Orientadora da escola, única pessoa a apoiá-lo, foi demitida. Meses depois esses alunos foram expulsos do colégio por traficarem drogas dentro das instalações escolares.
Não bastasse esse comportamento juvenil, em alguns casos, pais se vangloriam de ter tirado o emprego de professores fazendo denúncias, na Delegacia de Ensino e até na de Polícia, a torto e a direito, sem dar nenhum direito de defesa a quem , por muitas vezes , faz o papel de pai e de mãe de filhos abandonados em nome da carreira profissional e/ou da busca do sustento da família: são pais que mostram força para que ninguém possa ver suas fragilidades, não conseguindo ter a consciência — uma consciência que poderia evitar uma luta que só trará desvantagens para ele e seus filhos — de que, sempre que estiver julgando seu irmão, é ele que estará no tribunal.
A situação é tão crítica e generalizada, que o Instituto Confúcio, da China, que tem 382 unidades em 82 países, com custos de ao menos US$ 100 mi ao ano para o governo chinês, relata à Folha: “ Fazemos treinamentos de 300 horas com nossos professores antes de mandá-los para o exterior para tentar evitar choques culturais. Nossos professores não sentem tanta diferença na Coréia, Japão ou no Sudeste asiático. O problema é no Ocidente. É comum termos professores chorando diariamente nas primeiras semanas, pois a disciplina e a relação dos alunos com os professores são muito diferentes fora da China. Nosso professores não estão acostumados a ser desafiados ou que alunos discordem”.
Pobre Ocidente, pobre Brasil, pobres professores, MacGyvers reais, num mundo real em que a educação “avança” baseada em conceitos de especialistas da Educação que transmitem aos alunos e pais a ideia de que o aluno pode tudo, menos cumprir com suas obrigações de estudante, e que só podem, devem, ser defendidos/ajudados à moda Capone.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO