UM LUGAR EM QUE O SIM PODE SER NÃO

“Moro, num país tropical, abençoado por Deus ?”

 

Jorge Ben Jor

 

Fica cada vez mais difícil educar.
Os pais estão confusos e inseguros, e isso produz jovens insatisfeitos, sem limites, sem regras, sem normas.
O não nunca é firme, seguro, objetivo: na realidade, quase sempre, basta uma cara fechada ou uma birra básica, e ele se torna em um sim, frouxo, tímido, cheio de vergonha.
Mas é sempre um sim que abre as porta reais , para a criança ou o jovem, de uma existência cheia de riscos e surpresas, e que faz dos pais portos inseguros diante das vicissitudes da vida.
Mas aqui é assim mesmo, pois vejamos.
É proibido beber e dirigir, mas como não existe uma fiscalização rigorosa, e os poderosos sempre conseguem sair ilesos de qualquer possível batida no trânsito, fica a sensação de que talvez não seja  tão proibido assim.
É proibido fumar em determinados locais, mas começam a abrir portas para um e outro — foi liberado , antes proibido por lei, o uso de cigarros pelos atores no palco : e fica a  dúvida se a lei será ou não mantida, já que o número de exceções poderá   superar o das regras.
No colégio, a mãe, separada do pai, toma conhecimento do péssimo rendimento escolar do filho, os problemas disciplinares que ele  tem criado, as diversas ocorrências em sala de aula, a indisciplina geral e, então,  proíbe a ida do jovem a uma excursão recreativa marcada pela escola.
No dia seguinte, o mesmo aluno vem com o dinheiro dado pelo pai, acompanhado de uma contra-ordem: ele vai porque o pai, que não acompanha a vida escolar do filho, e não concorda com a mãe, comprou o “amor”  filial, mas se esqueceu das consequências  futuras,  e às vezes até funestas,  desse mercantilismo familiar.
Noutro dia, uma outra mãe comunica que seu filho não irá ao mesmo passeio por estar com muitas notas baixas. O dinheiro é devolvido para o garoto mas, logo a seguir, a mãe mudou de idéia: resolveu que o filho irá. Nesse caso não sabemos o motivo da mudança de decisão .
No congresso nacional , assim mesmo, com minúsculas, Gabeira vota a favor de uma lei e depois conclama , na Internet , que as pessoas boicotem a lei que ele aprovou: o sim dele era um não.
Infelizmente, nos tempos de  tão avançada tecnologia, ainda não construíram máquina para detectar quando o sim poderá ser  não,  e o não poderá ser sim.
É a família, refletindo a sociedade, ou vice-versa, deixando de herança para o mundo, uma multidão de consumidores de medicamentos contra depressão

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO ACIMA :

 

O tema é importantíssimo e atual. Lya Luft escreveu sobre o mesmo assunto, no último número da revista Veja.
Tórtoro aborda o tema com o conhecimento do educador e a coragem do cientista social.
Gostaria de ver este artigo transcrito nos grandes jornais brasileiros.
Faz-se mister um grande debate nacional sobre o tema.

 

Corauci Sobrinho –  Secretário da Cultura de Ribeirão Preto  – 2008

 

Concordo Toninho,
é a sociedade refletindo a família.
Precisamos lidar diariamente com um número cada vez maior de crianças sem limites, agressivas, onde percebemos a ausência de muitos valores.
Poderá a escola arcar sozinha com a responsabilidade de formar valores? Abraços
Familia Freitas

 

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