Se vivêssemos na década de 50, provavelmente as novelas da TV transformar-se-iam em álbuns: álbuns de figurinhas.
Alguém já disse que álbuns e figurinhas faziam parte da educação sentimental dos meninos nos idos da década de 50. Fizeram da minha.
Sou do tempo em que as figurinhas vinham junto com balas : abrir uma bala necessitava de um ritual respeitado por todos .
Vamos viajar no tapete-saudade , como costuma dizer minha amiga Vera Hanna.
O papel de bala era retirado cuidadosamente , para evitar rasgar a preciosidade que separava o conteúdo doce, do papel exterior : a figurinha que , em sendo carimbada , só teria valor se intacta , sem rasgo ou amassado.
Depois vieram os pacotinhos com 3 , 4 ou até 5 figurinhas : alguns com as indesejadas repetidas à exaustão , que não serviam nem para trocar com os amigos ou com eles jogar o “bafo” .
Ainda guardo comigo alguns álbuns, raridades, e volto no tempo ao folheá-los com cuidado , com carinho , porque os cinqüenta anos já corroem suas páginas assim como meu rosto : são nossas rugas.
Em “ Ídolos da Tela “ , de 1958 , tenho todos os artistas da “Art Films “ , “Atlântida Cinematográfica” , “Cinematográfica Brasil ” , “Columbia Pictures” , Condor Filmes Ltda “ , “ França Filmes do Brasil” e “Imperial Films Internacional S .A . “ . Ele começa com Abbe Lane , a figurinha número 1, e vai até Alida Vali , a última , passando por Pablito Calvo, J. Weissmuller , Mazzaropi , Oscarito , Janet Leigh e outros.
Em “Céu e Terra “ , de 1959 , uma viagem numa fantástica e prodigiosa nave, capaz, não só de percorrer os espaços infinitos , mas também de remontar aos séculos passados , às eras que se perderam no tempo. A primeira figura ( um grupo de 4 figurinhas ), representa uma família tradicional ( pai, mãe e filhos) olhando para um céu estrelado e, na última , a de no. 415 , um artesão chinês trabalhando um vaso de porcelana.
Já em “ Da Floresta Misteriosa aos Abismos do Mar “ , de 1951 , as figurinhas mostram o ambiente onde vivem centenas de animais ,” as terríveis e extenuantes lutas pela sobrevivência que tem de sustentar cada animal na floresta ou no mar , onde prevalecem a força , a astúcia , a agilidade , a ligeireza” . A primeira figura é um painel de figurinhas ( 9 delas), mostrando animais pré-históricos, tendo, na última, um caçador de esquilos voadores na Oceania.
“A Locomoção através dos tempos “ , com 280 figurinhas , álbum de CR$ 5,00 ( cinco cruzeiros ) , de 1950 , “ ressaltam os mais impressionantes fatos que marcaram a história da locomoção e o esforço do homem no seu contínuo afã de avançar, cada vez mais, no caminho do progresso” . Começa com um homem a cavalo e vai até um disco voador.
Tenho, ainda, “ História do Relógio” , “ A Dama e o Vagabundo “ , “Alice no País das Maravilhas “ , “Marcelino Pão e Vinho “ , “Álbum Enciclopédico de Raças e Costumes” , “Branca de Neve e os Sete Anões “ e “ Campeonato Mundial de Futebol de 1962 “ , onde se encontra a Seleção Brasileira de Gilmar , Mauro , Nilton Santos , Zito, Didi , Pelé , Dijalma santos , Pepe , Garrincha ( faltam as figurinhas carimbadas de Beline, Benê e Vavá ) .
Agora, não tem mais graça : tudo se encontra na Internet — que não tem o cheiro da goma , a figurinha carimbada, a troca na esquina da Única . Enfim, falta o “glamour” de “ Os Livros de Ouro da Juventude “, da casa Editora Vecchi Ltda : sonhos que vinham de São Cristovão , Rio de Janeiro , direto para garotos , como eu , da Vila Seixas, em Ribeirão Preto.
ANTONIO CARLOS TÓRTORO
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COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO ACIMA:
Tudo passa tão depressa, e são tantas coisas que eu já me havia esquecido: que ajudei meu neto a compor seus álbuns de figurinha, por exemplo.
Já faz algum tempo (!),
O interesse dele agora é outro.
Como você falou… e ele só tem oito anos!
Nilva Mariani – Escritora da ARL
Meu amigo, você caprichou ao relembrar “os nossos velhos tempos” .
Lendo seu artigo a gente vai voando ao passado doce e saudoso.
Oswaldo de Oliveira Rosa
Como é bom fazer coleções de bons momentos …
A gente era feliz e não sabia…
Helena Agostinho – ativista cultural
Tórtoro!
Estes são momentos que ficarão gravados na nossa mente com doçura, onde tudo era motivo de satisfação.
Não havia cobranças e nós vivíamos cada época com suas novidades, apreciando, para depois passarmos para outras brincadeiras que faziam nos envolver com outros amiguinhos.
Dessas reuniões teremos sempre muitas recordações boas.
Hoje a criança tem um brinquedo, daqui algumas horas ela já deixa-o de lado. isso acontece porque não existe tempo, nem amigos, e o ritmo é correr senão perde o bonde.
Infelizmente as brincadeiras gostosas ficaram para trás.
Valeu lembrar das figurinhas.
Eita tempinho bom!
Parabéns pelo texto.
Abraços.
Regina Machado
Deliciosa esta crônica do Mestre Tórtoro.
Fez retroagir ao tempo em que, como escreveu Ataulfo Alves, “eu era feliz e não sabia”.
Também conservo meus álbuns de figurinhas e me recordo de comprar as balas na antiga Paulicéia, na General Osório.
As repetidas eram trocadas com outros meninos.
Tempo bom, da inocência.
Obrigado, Tórtoro, por trazer de volta momentos tão bonitos de nossa infância. Deus o guarde.
Corauci Sobrinho – Ex-deputado Federal
Amigo Tórtoro,
achei que só eu gostasse de coisas da infância.
Tempos que jogávamos peteca na rua,sem medo.
Morava em uma cidade pequena,todos se reuniam à noite para brincar.
Gostei muito de seu artigo, pois temos algo em comum:saudades de nossa infância.
Tempos em que não se falava em drogas,etc….
Mais uma vez parabéns, amigo dos bons tempos e seu artigo 10.
Abraço fraterno
Isaura Rodrigues Jorge