ENZIMA PKN-ZETA E MINHAS MEMÓRIAS

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“Na alma, o tempo é sempre presente. A alma vive chamando de volta um tempo que já passou: isso tem o nome de saudade…”
Rubem Alves

 

Recentemente, o  professor Yadin Dudai, chefe do Departamento de Neurobiologia do Instituto de Ciências Weizman, da cidade israelense de Rehovot, descobriu a proteína que pode apagar memórias.
Para mim, isso não é novidade: as construtoras já estão fazendo isso com a minha memória, sem necessidade de qualquer tipo de proteína.
Estão apagando parte de minha memória, utilizando-se da insensibilidade tecnocrática e o imediatismo interesseiro de gente que não respeita a preservação de patrimônios, destruindo, ou tentado destruir,  imóveis que fizeram parte de minha vida.
A demolição do antigo prédio do Colégio Santa Úrsula, na rua Prudente de Morais, foi a primeira droga aplicada em minha existência e que, de forma definitiva, bloqueou as enzimas de minha história, associadas a mais de dez anos de  vida educacional.
Agora, vejo ameaçado o estádio de futebol do Comercial Futebol Clube: a ex-jóia de concreto inaugurada em outubro de 1964.
É mais uma parte de minha memória — e de milhares de outras pessoas — que pretendem destruir: é mais um condomínio, é mais um shopping, é mais um prédio , que ironia, comercial, igual a muitos outros já existentes e espalhados pelo pais.
Destruindo o Palma Travassos, estarão retirando de mim a presença física do palco testemunha das grandes alegrias esportivas de um jovem de dezessete anos que vibrava a cada conquista do chamado , em 1966, “Rolo compressor”.
Eu pude ver Piter marcando Pelé, Carlos César batendo faltas.
Na década de sessenta, o Leão do Norte viveu seus melhores momentos: acabou com a invencibilidade de 14 jogos do Palmeiras, dentro do Palestra Itália; marcou cinco gols no Santos de Pelé, dentro da Vila; foi campeão do primeiro turno do Paulistão e foi vice-campeão da Taça São Paulo ( só perdeu para o Santos de Pelé), além de Campeão do Interior.
E, para que toda essa história se transforme somente em uma triste lembrança, basta, como está sendo divulgado na mídia, que o Conselho Deliberativo do clube aprove o projeto de venda para empresários de Campinas.
Tenho visto torcedores do arquirrival, o Botafogo Futebol Clube, vibrarem com a situação do Bafo, assim como torcedores do Bafo sempre ficaram felizes com as desgraças do rival, Chulé, o que é normal quando se trata de fanáticos de ambos os lados, mas posso garantir que aqueles que assim procedem podem ser torcedores doentios , mas não são ribeirãopretanos: Ribeirão Preto perde, e perderá muito mais, com a desgraça de qualquer uma de suas históricas e gloriosas, no passado, equipes de futebol.
Como tem ocorrido nos grandes casos de assaltos aos cofres públicos — em que quase nunca há a devida punição e nunca a obrigatoriedade de restituição do que foi dilapidado, criando uma sensação de impunidade geral —  ninguém será responsabilizado, ninguém será culpado por mais essa tragédia esportiva, ninguém.
Será mais cômodo aos detratores de um patrimônio tão importante pensar que tudo aconteceu porque estava escrito: maktub.
Nesses dias de Tiradentes e de proteínas que apagam memórias, sobram  Pilatos.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

COMENTÁRIOS SOBRE O ARTIGO ACIMA:

 

Caro Tórtoro:
seu artigo é um libelo contra a destruição permanente de nossa memória e História.
Sou botafoguense e vejo, com tristeza, comercialinos defendendo a demolição de Palma Travassos.
O que farão com a placa que homenageia Paulo Bim, que marcou o primeiro gol no estádio?
Vão demolir a Capela de Santo Expedito, o santo da undécima hora?
Vão jogar no lixo tudo o que ali se passou, e que você tão bem rememorou?
Não será o caso de TOMBAR o estádio, ao invés de demolí-lo?
Antes de tudo, sou ribeirãopretano e quero preservar a História denossa cidade.
Não quero que o Palma Travassos seja mais uma lembrança e saudade como o Teatro Carlos Gomes, o Palacete Inecchi, os lindos casarões da avenida 9 de julho e assim por diante.

Abraços do amigo,

Corauci Sobrinho
Ex-Deputado Federal

 

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