A ESCOLA E A ENTREGA EM DOMICÍLIO

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“O bom pai é aquele que tem a coragem de entregar seu filho para o mundo.Quem não faz isso está subestimando a criança e atrapalhando seu futuro e sua felicidade.”

Marilyn Heins
O tempo decorrido entre o sinal de entrada e o primeiro intervalo para o recreio é, com frequência, utilizado pelos pais para uma interminável entrega em um único domicílio: o colégio do filho.
Chega apostila para um, dinheiro do lanche para outro, pastas com trabalhos, sacolas com tênis, livros paradidáticos, cadernos, celulares, máquinas fotográficas, enfim , tudo o que os atarefados e compromissados jovens não se lembraram  de providenciar na noite anterior, para ser utilizado  no período escolar do dia seguinte.
É um desfile incansável de motobois apressados, pais angustiados e atrasados para seus próprios compromissos, mães chorosas, lastimando não terem previsto o esquecimento “normal” de seus adolescentes, avós, tios, irmãos, enfim, famílias inteiras na porta do colégio , trazendo tudo o que deveria ter sido providenciado pelos alunos e  não o foi.
Um absurdo.
É preciso que, com urgência, sejam criadas escolas para ensinar os pais a educar seus filhos.
Os pais não admitem que seus filhos paguem, por mínimo que seja o preço,  pelos seus esquecimentos e desleixos.
Esqueceu em casa um trabalho ou pesquisa. Que fique sem o respectivo conceito ou nota.
Esqueceu o dinheiro do lanche. Que fique sem o lanche — ninguém morre de fome por ficar meio período sem comer.
Esqueceu o uniforme do futebol. Não jogue.
Esqueceu o celular. Use o orelhão ou telefone do próprio colégio em caso de emergência.
Seria muito interessante que os pais lessem a matéria  “Amor demais atrapalha”, publicada na revista Época,  de 13/4, da qual transcrevo um pequeno trecho:
“ Se não há dificuldades na vida das crianças e dos jovens, eles não vão desenvolver muitas habilidades, diz a americana Hara Marano, editora da revista Psycology Today e autora do livro A nation of wimps: the high cost of invasive parenting (Uma nação de fracos: o alto custo da paternidade invasiva), lançado em 2008.
Os hiperpais confortam demais, envolvem demais seus filhos o tempo todo, diz a pediatra e escritora americana Marilyn Heins.”
É preciso dar um basta a esse processo pernicioso de criação de um bando de fracos, de dependentes, de irresponsáveis, de reizinhos que fazem dos demais membros  de sua família um conjunto de vassalos  sempre pronto a suprir suas mínimas necessidades.
Se não ensinarmos nossos filhos como digerir pequenas contrariedades e frustrações durante o período escolar, mais tarde, nenhuma Supernanny  será capaz de transformá-los em verdadeiros cidadãos, capazes de enfrentar os grandes desafios da vida real.

 

ANTONIO CARLOS TÓRTORO

 

COMENTÁRIO SOBRE O ARTIGO ACIMA:

 

Sem dúvida Tórtoro, Jorge e eu concordamos cem por cento com você,  e foi dessa maneira, as vezes difícil para mim como mãe, que criamos nosso filho. Precisamos, desde cedo,  ter a consciência de que essa criança a qual tentamos proteger das mazelas do mundo, precisa de instrumentos emocionais para desenvolver a capacidade de aceitar frustrações. Aprender desde cedo a arcar com as consequências dos seus atos. Você se lembra daquele caso de jogar ovo um no outro no dia do aniversário? A sua atitude de fazê-los comprar ovos e doar a uma instituição, foi uma das maiores lições que Gustavo , meu filho,  teve na vida. A noção de desperdício de algo vital, a comida, e a forma imatura de comemorar uma data, ficou marcada definitivamente em sua personalidade.
Mais uma vez, você,  e os educadores do Ancheieta, fizeram a diferença. Abraços fraternos.
Sonia e Jorge
Sônia Freitas

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